sobre David Hume

"Hume desenvolveu sua teoria através de um método experimental de raciocínio. Para o filósofo, o conhecimento é desenvolvido através da experiência sensível do ser humano, a qual está dividida em duas partes: impressões e ideias.

A primeira estaria associada aos sentidos do ser humano (visão, audição, olfato, paladar e tato), enquanto a segunda estaria associada as representações mentais resultantes das impressões".

Ponderando estas informações me pergunto que tipo de impressões e ideias eu tenho agora em relação ao dia 07/05/2022.

Soa um pouco leviano mas vamos analisar por partes:

Relacionado as impressões, enquanto a visão: estava escuro em conceito geral, a luz led verde iluminava cega e superficialmente, as silhuetas no palco se moviam e se denunciavam em frente aos olofotes, haviam muitas pessoas mas eu não as enxergava, quisera fosse pelo escuro, mas diria que foi uma falta de atenção intencional, havia uma unica pessoa que eu me preocupava em enxergar.

Audição: ainda agora ouço, a bateria a guitarra, choros emocionados, eu estava em meio a plateia, mas de todos os sons um só me chamava a atenção, era o de uma respiração. Lucas Silvera tocava stonehenge, e a letra parecia encaixar se perfeitamente no momento em questão, como se minhas palavras não ditas fossem por ele narradas bem ali naquela linda canção.

Olfato: o cheiro no ar era doce, uma mistura de alcoólicos e fumaça de cloreto de amônia, mas havia um cheiro que mais que os outros me chamava atenção, era sucinto, discreto ninguem a mais de um palmo o sentiria, devo dizer que era enebriante.

Paladar: eu sentia o gosto agridoce de minhas proprias lágrimas, quis escondê-las, mas no fim, a emoção do momento, pressionou tanto o nó em minha garganta que elas escorreram antes que eu pudesse perceber.

Tato: havia um calor intenso, não só pela casa de show ser fechada. Eu estava quente, como poucas vezes na vida, a ponta dos meus cabelos se misturavam ao fim do meu maxilar e ficavam molhadas com as lágrimas, eu pudia sentir bater um coração, firme e acelerado, eu pudia sentir o calor da pele do seu corpo por baixo da sua roupa, minhas mãos o abraçavam em torno da cintura, e senti de leve o seu rosto roçar o meu algumas vezes, por ter a minha cabeça apoiada em seus ombros, minhas lagrimas caiam nas costas das minhas mãos, e mesmo que eu quisesse conter os soluços, eu nada podia fazer contra o impulso que abalava o nosso abraço, eu queria ter dito algo? O soluço se acalmou quando uma de suas mãos tocou meu braço retribuindo o abraço e a outra me fez um lijeiro cafuné, como se dissesse "tudo bem" "estou aqui", um suspiro profundo ergueu minha caixa torácica e permitiu que o corpo acinturado e pequeno a minha frente se encaixasse ainda mais ao meu, em algum momento fechei os olhos e quis não mais precisar soltar.

Uma sensação tão intensa capaz de se espalhar e dominar todos meus campos de sentido, temo não ser capaz de ignorar o resultado de tantas impressões, e nem de admiti-lo. Acredito que como hoje, quando lembrar dessa madrugada de sábado, ainda voltarei ao abraço que lhe dei, a fração infima de minutos em que estivemos ali, ao fato de estar em dúvida de poder ou não tocar assim um corpo, que quis ter pra mim, mesmo sabendo ser seu, e sendo justamente esse o motivo de quere-lo tanto. Eu não entendo por que, de isso ter sido tão significativo e marcante em mim, eu não despi você, nem o toquei de forma inapropriada, nem chegamos perto do que se imagina existir de proximidade quando se pensa em um casal, e isso é claro porque não o somos, mas ainda assim eu não pude negar o misto de emoções que tentei descrever aqui, nem sei se desejaria nega-lo , mas estar ali, viver o ali, vendo, ouvindo sentindo cada uma das sensações que formam a imagem sensorial dessa memoria indescritivel e tão preciosa pra mim, é um absurdo de tão incrível.

Eu nunca saberei o por que de ser assim, e nunca esquecerei, o fato de ser assim, e em toda via, quando penso nisso, e me lembro lentamente de cada uma das sensações em algum momento eu fecho os olhos e desejo não mais precisar lhe soltar.