Saudade e esquecimento.
Ultimamente tenho sentido saudade de algumas pessoas e momentos dos quais eu não deveria sentir.
Às vezes a saudade machuca. Dá vontade de poder apagar algumas lembranças na hora que quisesse. De forma imediata. Através de algum mecanismo simples. Talvez acionando um botão, ou com um click, igual como descartamos de um computador os arquivos que não queremos mais.
Sei que isso não daria certo. Tem coisas na vida com as quais é naturalmente difícil de lidar. Não podem ser resolvidas rapidamente, sob o risco de criarmos outros e mais graves problemas. São situações que requerem tempo e paciência.
Nós gravamos os momentos ruins mais rápido do que esquecemos. Muitas pessoas gostariam que fosse assim com o aprendizado de um novo idioma, por exemplo. Mas é justamente o contrário. Geralmente são anos para aprender e alguns dias para esquecer completamente. A memória tem dessas.
Recentemente, conheci um pouco dos trabalhos do renomado neurocientista argentino Iván Izquierdo a respeito desse tema. Li uma entrevista onde ele diz que existem ‘sessões de extinção’ que auxiliam pessoas a esquecerem com mais facilidade, ou reduzirem o estresse pós-traumático e fobias do passado. Segundo ele, é um processo que pode ser complementado com medicamentos ansiolíticos, mas não necessariamente.
Porém, ele também destaca a importância tanto do esquecimento quanto das lembranças para a saúde mental. Elas devem ser dosadas e fazem parte da nossa identidade.
“Somos exatamente o que nos lembramos e também somos o que não queremos lembrar”, diz o doutor Izquierdo.
Talvez nesse ponto o velho Freud tenha razão: não esquecer, mas lembrar sem sentir dor.
Isso é importante porque, assim como nós queremos esquecer episódios ruins, e às vezes alguns bons que não voltam mais, também não queremos ter uma espécie de Alzheimer constante em relação a nossa própria história. É necessário um equilíbrio.
De todo modo, ultimamente a saudade tem me apertado bastante. Queria muito apagar algumas coisas. Tem uma canção muito boa, famosa na voz de Peninha que até ajudaria a me consolar: “Ter saudade até que é bom/É melhor que caminhar vazio...”
Mas, no momento, é uma de Chico Buarque, que tem tocado com mais frequência dentro mim: “A saudade é o pior tormento/ É pior do que o esquecimento...”.