Devaneios - Estagnação

Essa estagnação em que me encontro me faz pensar se perdi para sempre a obstinação em ser melhor. Nas raras vezes em que lembro de usar o meu espírito, limito-me a olhar no espelho, perguntar em voz alta "quem é você?" e voltar a viver, entre aspas, a rotina de sempre. Volta e meia me surpreendo com um sentimento muito passageiro, que, se fosse transformado em uma imagem, seria uma luz. Luz forte, quentinha, quase um carinho iluminando meu coração melancólico. Mas, tão rápido como vem, se vai. E eu fico esperando que volte, mas a demora me faz perder as esperanças e isso resume meus dias, meu viver. Vivo perdendo as esperanças e ganhando, e perdendo, e ganhando de novo. Há luz na minha vida, não pense que não. Externamente há pessoas, duas em especial, que me despertam a fé e um olhar inocente ao mundo. Mas, internamente - e é até desesperador admitir- , que se fosse possível chorar por dentro eu seria um rio a transbordar por todos os poros. Possuo um coração melancólico e isso me é a coisa mais familiar do mundo. Claro que vez ou outra me pego observando a beleza dos pássaros, de um entardecer, o frescor da garoa após um dia quente e o cheiro de mato que deliciosamente substitui esse odor característico da cidade. Mas o de praxe, tão certo quanto essa minha mente desanuviada, é o olhar sempre atento à escuridão. Da noite e dos corações. 

Lidia Lorena
Enviado por Lidia Lorena em 05/05/2022
Reeditado em 06/05/2022
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