Tiro e queda.
Pode nem parecer, mas estamos em 2022, século 21.
Os nomes Gabriel Monteiro, Daniel Silveira e de alguns integrantes do MBL como Arthur do Val e Kim Kataguiri apareceram bastante nos noticiários dos últimos meses. Um deles, acusado de abuso sexual de menores, entre outros crimes. O outro foi cassado por falas machistas e sexistas dirigidas a mulheres na Ucrânia, vitimadas pelos horrores da guerra. Teve também quem relativizou o nazismo e quem fez ameaças diretas ao poder judiciário.
Todos esses são políticos em primeiro mandato. Todos, claro, adeptos de Bolsonaro, mesmo que alguns ainda finjam fazer oposição. E é possível, entre eles, distinguir quem é quem?
Não nos enganam. O ódio a princípios democráticos, a cultura do estupro, a misoginia, o desprezo aos pobres, são algumas características que estão no DNA do bolsonarismo. E ainda havia quem questionasse os motivos pelos quais o PT se opunha a participar de manifestações organizadas por esse grupo de criminosos.
Às vezes, pensamos ao acompanhar as notícias: “essa fala é coisa do século XVIII”, “essas decisões parecem ser do século XV”, “isso nos remete a Idade da Pedra”. Realmente nosso presente continua carregado de passados sombrios.
Nem parece, mas estamos no século 21. E não é exagero dizer que há um esforço constante de Bolsonaro e seus aliados para que soframos outros desastres sem precedentes na história do nosso país.
Lembro que, em 2018, um eleitor do Bolsonaro me disse na escola em que estávamos para votar: “Agora é o capitão. Ele vai ser tiro e queda”. Depois vi outros comentários e memes com essa expressão nas redes sociais. Feitos pelo mesmo eleitor? Não se sabe. E dá pra distinguir quem é quem? São sempre muito parecidos, como Bolsonaro e MBL. São o mesmo.
Mas, em algum sentido, está certo. Até agora foi só tiro e queda. O governo federal deu muitos tiros e o Brasil está em queda livre. Inflação nas alturas, a maior em 27 anos. Pessoas continuam em filas para receber ossos e pés de galinha dos açougues. O pseudo-presidente volta a afirmar que descumprirá o marco temporal a respeito de demarcação de terras indígenas, medida que, se aprovada, permitiria que povos originários pudessem reivindicar terras que não puderam ocupar antes da promulgação da Constituição de 1988. E outras grandes atrocidades acontecem enquanto escrevo este pequeno texto.
Nada de novo. O Brasil continua sob muitos ataques, muitos tiros. Se pode ter algo positivo nisso, é que Bolsonaro também está em queda. Foi um bolsonaro para si mesmo. Tem provado do próprio veneno. Atirou na já agonizante democracia, na cultura, na educação, na língua portuguesa, na justiça, nas minorias, em tudo, inclusive no próprio pé.
O STF parece ter se acostumado em ter suas decisões descumpridas. Bolsonaro ainda pode tentar mais um golpe para se manter no poder após o fim do seu mandato. Ainda que consiga, não cabe nenhum reparo ou correção em afirmar que ele está em queda. Depois de ter dado 'ele sim' nas urnas, bolsonaristas e isentões fizeram piada, dizendo que estavam erradas as mulheres que foram às ruas manifestar o ‘ELE NÃO’. Agora temos diariamente a confirmação de que elas estavam certas.
ELE NÃO poderia ter sido eleito. ELE NÃO poderia sequer ter sido candidato. Ele e os seus cúmplices são em si a própria queda.