Quanto custa a insistência?
Planos e desejos são expressões individuais. Indivíduos são seres completos, e complexos, que pertencem a um plano ainda mais completo e complexo. E tudo isso rege um único parâmetro, que é viver. Viver, como vou por aqui, por conta e risco, é praticamente uma teimosia e insistência de cada ser. Mas, se tudo pertencesse a um sistema fechado, basicamente, essa ideia de unidade perderia o sentido, pois ela, a unidade viva, não se governaria e seu valor seria quase nulo, entretanto, sua existência se faria necessária. Nessa ruptura de ser teimoso, no ideal de prolongamento do tempo de vida, e ser insistente, na busca de maneiras de realizar esse desejo - que podem caber no conceito de 'livre arbítrio' -, o ser humano acabou por inserir, no 'plano mestre', mais complexidade. E é sobre isso que vou tentar dialogar.
As sociedades, como algumas artes gostam de colocar, não possam de réplicas de ambientes selvagens, com o diferencial de serem criações artificiais, pois, periferias e centros urbanos, apesar de serem semelhantes a ervas daninhas, não se desenvolvem por combinações celulares 'espontâneas'. E dentro desses biomas, cada indivíduo se desenvolve e buscam, insistentemente, sobreviver o máximo possível. Mas, se adicionarmos toda a especificidade humana nesse 'plano mestre', o que há de diferente na sobrevivência natural e quais os custos disso?
Sobreviver, por natural, basicamente é estocar energia para os eventos diários e se reproduzir para perpetuar a espécie. Que, no geral, não se difere do nosso sobreviver. A diferença se aplica apenas nas opções que se criaram, e cabem, aos eventos diários. Outro adentro, nesse quesito diferencial, é a categoria de estocar energia, pois, para sua maioria observada, e de forma tratada, resumem-na, para a vida selvagem, apenas a energia motora, quando, para nós, há a energia emocional em paralelo. E esse adicional carrega, por si só, grande parte do pesar da insistência de viver atribuída aos indivíduos dentro das sociedades.
A nossa insistência, expressada em desejos e planos de vida que devem caber em micro-sistemas (econômico, educacional, profissional, romântico, político...), exige, atualmente, uma demanda de energia sobre-humana. Energia, esta, que se estende o consumo além do ir lá 'conquistar', como, por exemplo, manter e melhorar. Uma sensação de perspectiva causada nessa ótica é a de reversão do consumo, onde, ao invés de nos satisfazermos ao finalizar o processo de conquista, trocamos os papeis e passamos adotar as características de quem alimenta 'o conquistado'. Logo, o valor de tudo se torna careiro, pois, além do esforço de "caçar", terá que demandar esforço para manter e, se for de necessidade, melhorar. Assim, a questão sobre "valer a pena" acaba se tornando mais importante de que questões sobre valores e custos.