Duas Cartas, um Único Escritor...
Duas Cartas, um Único Escritor...
Carta 1
Existe um demônio ávido por fazer almas sangrarem, corromper e viver na eterna danação do meu posso e sou... O empecilho? É apenas uma questão medíocre diante do senhor... Meu querer.
Sobre essa terra, construo alicerces, ergo uma catedral imponente, onde o lábaro é minha ignorância, onde minha soberba reina com dogmas cristãos, evangelizando tantas mentes fracas, fazendo-as adorar a quem em si despreza o espelho.
Neste narcisismo do eu, sob um pedestal da mais elevada consciência, julgando tantos eu's, inferiores, sem empatia, se esquece de virar a página e repetidamente relê o capítulo onde a aventura limitasse as paredes da redoma criada para se proteger da vida... Em vida... Sem vida... Morre.
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Carta 2
É estranho pensar na morte... Por sua vez, porquê é? Corremos tanto sem saber se vai valer a pena. Juntamos tantas ninharias, ouro no velho caldeirão de bronze, naquele final colorido do arco-íris acinzentado... Sim.
No quadro medieval da nossa realidade, catedrais não passam de casebres de um vão só, as orações, são na verdade conjurações proferidas ao meio dia, nas altas e inúmeras noites sob as três horas de uma lua negra... Horas abertas... Fechando sua superação.
Eu, tão cheio de mim, encontro-me oco, onde uma gota d'água pode ser ouvida a léguas, apenas espelhando em tantos o que em mim não suporto, como sei disso? Nas raríssimas vezes que enfrento tal retrato. E na morte... Na certeza de morrer... Vivo.
Texto: Duas Cartas, um Único Escritor
Autor: Osvaldo Rocha
Data: 25/04/2022