Posse da verdade
Meus olhos repousaram imóveis na essência projetada.
E jazia nela uma verdade absoluta sobre o ser,
Cuja perplexidade me arrebatara completamente!
Eu sei, pensei, o que há na natureza das coisas.
Seus traços horripilantes me eram apresentados,
Em um decalque nítido,
De bordas definidas,
Mas de cores vazias,
Cinzentas.
Por que a verdade é tão abjeta?
A pergunta irrompia constantemente,
Numa mente que desejava mentir diante da verdade.
Ora, o olhar que paira sobre um saber que deveria estar oculto,
Imprimia a realidade da paralisação do desejo.
Pois, para que desejar quando se tomou posse do que ninguém mais sabe?
Não há como explicar as repercussões desencadeadas pela captura.
Todo meu corpo foi tomado de um esgotamento,
De um não sei o quê e para quê assombrosos.
E se guardo comigo o desfalecimento daqueles que possuem a verdade,
Sei também, desde já, que só na ausência encontra-se vitalidade.
Pois que o segredo último,
Circunscreve-se no horizonte para ser mirado,
Não porque tem exímio valor,
Mas, sim, por guardar uma promessa de vir a ser,
Um algo que se quer,
Mas se desconhece!
Porquanto nem todo saber produz felicidade,
Já que a ignorância é a mãe da procura.
E só na busca reside a terna alegria de viver.