Amigos
Alguns dias atrás escrevi um breve texto sobre amizade, expondo pontos os quais banalizavam tal sentimento tão precioso e importante para a formação de um ser. Havia muitos de meus pensamentos também. Nele, com toda minha limitação intelectual, quis mostrar o erro de algumas pessoas ao atribuírem uma palavra tão forte, por exemplo "amigo", a qualquer cidadão que lhe deu poucos dias de aventuras, ou algum tapinha nas costas nessas ocasiões espontâneas da vida as quais nos obrigam, numa movimentação mecânica, a tal ação. Amizade não é um lanchinho da tarde com coleguinhas, ou aquelas conversas paralelas dentro do ônibus em trânsito; essas ladainhas são apenas o tédio nos forçando à simpatia. A amizade é uma construção lenta, dolorida, repleta de aprovações, uma batalha onde muitos caem, restando alguns pingados de sobreviventes. Digo tudo isso, pois nada são flores ou um romance colorido com final feliz; vivemos a verdade, a realidade do mundo. Por isso digo que muitos tratam a temática abordada como utopia, proferindo, com vozes embriagadas, "você é meu amigo", dizem. Quando, porém, aqueles não são, nem de longe, seus amigos, apenas alguns conhecidos. Mas achamos que qualquer um é passível dessa honraria. Amigo, para mim, é a família alternativa, nosso abraço quente, nosso conforto, a segurança das tempestades corriqueiras da vida. Eu, por exemplo, tenho amigos amáveis na minha percepção, mas que, à medida em que são humanos, erram e são chatos. Normal, também sou assim. Quantas vezes já ouvi objeções de suas bocas tão amargas e ressentidas, mostrando a humanidade em seus corações, pois é desta forma que eu percebo o real, não o utópico. As casmurrices de um, a tagarelice de outro, um tal fulano rabugento... mas todos cheios de qualidades.
Como disse anteriormente, a amizade é muito mais do que um símbolo, ela é aprovação, seja do tempo, seja da confiança. A amizade nos torna mais vivos diante da penúria humana. Às vezes, somos separados brevemente por certas desavenças, típicas de uma sociedade tão amarga. Todavia, nada disso é para sempre, pois amizade é sinônimo, em meu mundo, de força e família alternativa. E eu tenho essa família. Cada membro ajudou a moldar o meu caráter. Sempre que vejo um desenho japonês, ou animes para os geeks, lembro de um velho amigo desenhista. Sua capacidade de desenhar é tão cativante quanto o seu ser, uma pessoa curiosa; à primeira vista podemos imaginar um homem resmungão, chato e até sério, mas na verdade não passa de um brincalhão, cheio de desejos e dificuldades, além de um artista nato, sendo, também, um pai extremamente cuidadoso e caprichoso. Ele também gosta de uma banda filandesa, nitghwish, que não consigo ouvi-la sem pensar nele, com suas roupas escuras e bandana na cabeça. Esse amigo é um dos que mais me moldaram, sua essência caiu sobre mim, inclusive o incentivo por alguma arte (por isso escrevo e escrevo, até um dia melhorar). Hoje em dia tenho o visto pouco, mas sempre me alegro quando estou ao seu lado, sinto uma leveza e um formigar pelo corpo. Esta é a felicidade, é a amizade. Tenho outros também, como um que teve enormes conquistas e muitas têm por vir; sempre à frente de projetos dinâmicos e elucidando suas vontades a todo o tempo. Um outro que conheço desde 2004, mas ficamos amigos de verdade em 2012 ao trabalharmos juntos, onde pude enxergá-lo e traçar sua alma. Ele tem passado por algumas dificuldades, mas já evoluiu e irá evoluir muito ainda. Esses dois últimos me ajudaram em querer sempre mais, ensinaram-me, mesmo que de forma indireta, a apreciar bons livros e nunca me sentir satisfeito diante da fome pelo conhecimento. Há outros quatro, dois que tenho como os "seres mais velhos", sempre gostei de ouvir suas opiniões, por mais banais que fossem, ficava admirado com cada história maluca. Eu já ouvi até maluquices sobre alienígenas. Acontece que nem consigo concentrar os adjetivos em uma palavra, meus amigos são demais. Tenho um tachado de playboy, mas, apesar de ter nascido bem, sempre amarga alguns trabalhos por fora, além de ser uma boa pessoa, camarada ao extremo, sempre me levando para perambular por aí, um irmão. E ele pode até ser playboy, mas é sensacional e nunca faz mal as pessoas. Por último, não menos importante, tenho esse que é resmungão, grita bastante, mas, eu sei, que daria o sangue para salvar um amigo de uma enrascada. Tão espontâneo como a nave em que cai em terras brasileiras.
Bom, ainda tenho muito mais para escrever, e muito mais virá, sobre cada um de meus amigos. Consigo contá-los nos dedos, sobrando alguns até. Entretanto, quantidade nunca é sinônimo de qualidade; nos poucos que tenho há muita qualidade. Amo todos. Olho para o passado e vejo os mais de vinte os quais me rodeavam, hoje apenas os sobreviventes, os de verdade, os que me amam. Se um dia eles lerem isso, ou qualquer pessoa, espero entenderem o valor de uma amizade, ela não é coleguismo. Coleguismo passa, amizade, não.