Coisa de alma
Relacionamentos amorosos. Talvez você viva algum. Talvez queira viver algum. Talvez tenha saído de forma conturbada de algum. Talvez tenha terminado algum porque chegou a hora de encerrar o ciclo. E talvez não queira viver nenhum. O fato é que os relacionamentos amorosos sempre farão parte do nosso imaginário, sempre serão retratados nos livros e nos filmes, sempre serão discutidos em rodas de conversa. Mas também é fato que os relacionamentos amorosos não se sustentam com a ingenuidade dos contos de fadas, nem com o calor da paixão dos contos mais quentes. Os relacionamentos amorosos envolvem mais do que um amor idealizado ou uma luxúria descontrolada. Os relacionamentos amorosos exigem coisas de alma.
“Eles querem coisa de pele, a gente tem coisa de alma”.
Essas palavras cantadas por Projota resumem bem a ideia do primeiro parágrafo. O que quero dizer é que a superficialidade com a qual muitos adentram em relacionamentos amorosos é a responsável pelo fim trágico, às vezes precoce, mas sempre traumático das histórias de amor. Muitos se permitem a eles achando que será como nas histórias de príncipes e princesas. Quando as imperfeições são as responsáveis pela atração. Quando a magia soluciona problemas que na vida real implicariam em empreendimentos muito mais complexos. Quando tudo o que está ali retratado às vezes não passa de metáforas para reflexões muito mais profundas e amadurecidas. Ou então, quando não entram nesses tais relacionamentos influenciados pelos sonhos dos contos de fadas, entram sedentos pelas exorbitantes descrições dos contos adultos. Acham que tudo será caloroso. Que bastará um olhar para que o clímax seja alcançado. Que tudo será perfeito como nas produções de Hollywood. Mas a vida real não é uma produção cinematográfica. As performances dos filmes dificilmente podem ser replicadas na realidade com a mesma intensidade ou caracterização. Isso porque na vida real não basta que a pele deseje. É necessário que a alma seja cativada.
É por isso que tantos relacionamentos esfriam. Porque em algum momento a pele se tornará costumeira, conhecida, previsível. A pele e as coisas da pele, em algum momento, deixarão de ser tão atraentes ou sedutoras. E aí restará apenas as coisas da alma, ou aqueles segredos do coração. Paixão talvez só dependa do que o corpo tem a oferecer. Mas, uma vez conhecido e descoberto, o corpo perde aquele poder de seduzir, porque já não esconde nenhum mistério. Mas o amor depende da alma. É por aquilo que as pessoas carregam em seu interior que nós as amamos. É por suas menores características que nos afeiçoamos. É pela forma como dizem as palavras, é pelo conteúdo de seus discursos, é pelos olhos que nos observam – relevando aquilo que sente a alma – , que acabamos enamorados de alguém. E a alma se renova a cada dia. Quanto mais o tempo passa mais a alma se renova. O corpo definha. Mas a alma rejuvenesce. Porque aprende mais, adquire mais sabedoria, é cada vez mais preenchida pela vida e suas lições. E quando nossos relacionamentos amorosos se baseiam nas coisas da alma, talvez acabem, mas acabarão de forma sutil, suave, tranquila, dando-nos aquela sensação de que foi maravilhoso enquanto fez sentido que existisse.
(Texto de @Amilton.Jnior)