Há mais para ser apreciado
Eu gosto de pensar a vida como algo com dois aspectos básicos: um lado gostoso, que nos agrada perante as nossas aspirações, e um lado desgostoso, onde choramos lágrimas de dor e tristeza. Faz parte da vida. As coisas boas e as coisas ruins. As experiências estonteantes e as experiências paralisantes. Tudo faz parte da vida. Um dia o sol raia com força e no outro as nuvens imperavam com vigor. Mas tudo faz parte da vida e serve a algum propósito. O mesmo vale para as experiências que vivemos nesse plano terreno. Sejam elas boas ou más, constituem a vida e possuem uma razão para existir.
O problema é que, em tantas ocasiões, a gente se prende apenas ao que de mais doloroso vivemos, como se a vida só tivesse aquilo a oferecer, como se fosse aquilo que merecêssemos. E focamos naquela dor. Focamos nas circunstâncias que nos levaram àquela dor. Não tiramos os olhos da dolorosa paisagem que paira diante de nós. Agindo assim, superestimando as dores e angústias, deixamos de enxergar as oportunidades que nos são concedidas para sorrir. A gente perde de viver a vida em seus melhores momentos porque insistimos em nos manter aprisionados ao que de desagradável precisamos viver.
“Se choras por não teres visto o pôr do sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas”.
Essa inspiração de Rabindranath Tagore nos leva de encontro à proposta da reflexão de hoje. Ao nos lamentarmos tanto pelas dores que tivemos que enfrentar, ao nos prendermos tanto aos desprazeres que fomos obrigados a experimentar, deixamos de notar o que tudo isso quis dizer, deixamos de notar o que vem depois dessas tempestades. Após o belo e glorioso pôr do sol, quando a noite, enfim, chega, nos é concedida outra belíssima oportunidade: apreciar as estrelas, aprender sobre as constelações e até arriscar a identificar na imensidão da noite a existência de algum planeta que orbita o sistema solar. Nos é dada a chance de nos encantarmos pelos mistérios do Universo. Ficar se lamentando por ter perdido o pôr do sol e acreditar que nada mais importa pode fazer com que você perca a oportunidade de viajar por entre as estrelas. O mesmo serve para a vida num sentido mais amplo. Os desafios existem, são muitos e por vezes difíceis, mas depois deles sempre haverá um recomeço, uma chance para voltarmos a sorrir. É depois da dor que soam as melhores e mais belas gargalhadas. Mas essas gargalhadas gostosas nunca existirão se tudo o que soubermos fazer for repetir em nossas mentes as dores que tivemos que suportar. As dores existem, fazem parte da vida, mas a calmaria também existe, o refrigério também faz parte da vida, mas essas partes só podem se apresentar quando as outras saírem de cena. Você só será feliz quando deixar a tristeza ir.
(Texto de @Amilton.Jnior)