O garotinho e as jujubas

Nesta semana fui ao Subway no centro de Maceió. Era quase 11 horas da manhã de terça-feira. Uma terça-feira abafada, calorenta, típico daqueles dias que antecedem uma grande tempestade, uma grande caída d’água.

Estava eu lá comendo meu sanduíche no pão três queijos, com recheio de queijo suíço e um bife no estilo churrasco, quando apareceu aquele garotinho. Tinha um pouco mais que um metro, esguio, cabelos lisos e sujos, camisa branca com estampa bastante surrada. Acho que beirava os nove anos, por aí.

“Moço, compra aqui umas jujubas pra me ajudar.” Pediu o garoto segurando uma caixa, ainda cheia, de jujubas. Normalmente eu costumo ignorar as pessoas que pedem ou oferecem-me algo quando estou lá no centro. Porém, dessa vez foi diferente, meu coração pediu para ajudá-lo. Então eu peguei míseros dois reais e cinquenta centavos que eu tinha de trocado e pedi duas jujubas.

“Muito obrigado seu Moço. De coração, muito obrigado mesmo!” disse o menino, alegremente. Mas tão alegre que deixou cair a moeda de cinquenta centavos sobre a mesa.

Eu olhei para o rosto inocente daquele pobre menino e enquanto ele, feliz da vida, se abaixava para pegar a moeda eu pensava e entrava em um dos grandes tuneis que tem na minha problemática mente. Eu lembrei de um menino que passava os quentes dias de finados subindo e descendo a ladeira do alto do cemitério com caixas de velas tentando vender, para que no final do dia o dono da mercadoria desse-lhe um real como pagamento. Isso mesmo um dia todo de trabalho por um real. Aquele mesmo menino corria atrás dos carros que subiam e paravam próximo ao cemitério, ele chegava nos donos e pedia para ficar vigiando os carros. Às vezes ganhava alguns tostões, às vezes não ganhava nada.

Eu lembrei de um menino criado sem seu pai, sua mãe trabalhava o dia todo e ele ficava ali junto aos outros moleques, aprendendo toda a malandragem que a vida poderia ensinar. Aquele menino tinha tudo para dar errado, todos apostavam nisso. Mas ele deu certo e estava ali no centro da cidade de Maceió, chegou lá em seu sedan preto e estava comendo um sanduíche gourmet.

O menino das jujubas foi embora e eu fiquei pensando: ‘’quem é o pai dele? Cadê a mãe desse menino? Espero que ele esteja estudando e que um dia possa sair dessa situação.” Eu levantei da mesa que estava e fui ao banheiro e chorei, juro eu chorei. Chorei porque existe um monte de “meninos da jujuba” por aí e muitos meninos do alto do cemitério e eu não posso fazer nada por eles. Senti-me um completo inútil.

Mas hoje faço uma promessa: não posso mudar a vida desses tantos meninos. No entanto, posso mudar a vida do meu menino. Vou fazer de tudo para dar-lhe uma vida digna, uma boa educação, bons modos. Assim ele não precisará ser mais um menino da jujuba ou menino do alto do cemitério. Pelo contrário, ele irá ajudar esses meninos. E se todos os pais pensassem como eu, não teria mais meninos das jujubas no mundo.