Decidir por si mesmo

“Uma hora você terá que decidir quem será. Não deixe que ninguém decida por você”. Esse sábio conselho está no filme Moonlight. Mas por que será que abrimos mão da nossa essência, de quem somos, do que desejamos e aspiramos? Por que será que entregamos à vontade alheia o controle sobre as nossas próprias vidas? Temos medo da liberdade? Temos medo de nos responsabilizarmos pelas nossas escolhas as quais gerarão consequências? Erich Fromm, um importante teórico, em seu livro O Medo à Liberdade pontua que uma das razões pelas quais passamos a viver uma vida que não nos pertence submetendo-nos a convenções ditadas pelas outras pessoas, é pelo medo de não nos sentirmos pertencentes pelos outros.

Só que há um problema nisso. De tanto nos convencermos de que ser o que esperam que sejamos e viver como esperam que vivamos irá nos livrar da angústia da solidão, a gente acaba perdendo a nossa individualidade. Para citar Fromm, a gente se torna mais um autômato idêntico a milhões de outros autômatos, a gente se perde no meio da paisagem, perdemos nossa capacidade de nos destacarmos, de sermos únicos, de vivermos uma vida única!

Sem dizer que, ao abrirmos mão da nossa liberdade e, assim, considerando que estaremos livres de possíveis consequências geradas pelas nossas escolhas, termos aquela sensação de que não precisaremos nos responsabilizar por nossos erros ou frustrações, a gente acaba se enganando, porque mesmo o ato de entregar a nossa vida a outrem é uma escolha que estamos fazendo. E essa escolha gerará efeitos. As decisões que tomarem por nós serão baseadas em princípios que não os nossos. Os caminhos que determinarem em nossos nomes serão desenhados a partir de concepções que não concordam com o que acreditamos ou esperamos da existência. E viveremos frustrados. Viveremos frustrados porque estaremos em uma vida que não nos pertence, que não nos cativa, que não nos permite acordar em uma manhã de sábado com o sorriso no rosto. E essa frustração não será culpa dos outros porque “eles não souberem escolher por nós”. A culpa é nossa. Porque fomos nós que abrimos mão de nosso poder de escrever uma história grandiosa e entregamos o lápis a mãos ignorantes a respeito de quem somos ou do que queremos.

Entende por que não há como fugir? Entende por que precisamos assumir a nossa história? Assumir a nossa liberdade? E daí que teremos responsabilidades? E daí que as consequências poderão não ser tão agradáveis? É a partir das experiências às quais nos permitimos que a gente evolui. É a partir da dor dos erros que a gente cresce, amadurece e se desenvolve enquanto seres humanos. Então assuma o protagonismo. Não seja mais um autômato dentre milhões. Nem permita que a sua essência se misture às outras ao ponto de desaparecer. Seja autêntico. Tenha originalidade. Pergunte-se sobre quem é e faça essa descoberta. Mas quando descobrir não tenha medo de não ser exatamente o que esperavam que fosse. Apenas seja quem deve ser!

(Texto de @Amilton.Jnior)