Mais 6 anos
Daqui seis anos terei 44 ou 45 anos, dependendo do mês do ano. Penso como será ser pai outra vez. Será que terei a mesma força para acordar três ou quatro vezes na madrugada? De que maneira irei amar? Quais precipitações saberei calar? Quais as angústias que terei que suportar? Não temo ser pai de novo, pelo contrário. Não receio aprender outras coisas. Não tenho só um medo, tenho uma porção deles, mas eles nunca me abandonarão e isso já aprendi. Convivo com meus medos. Não passo ileso sabendo que eles me habitam. Quero poder dividir a paternidade. Maria, minha filha, tem quase seis anos. Três deles morou em Florianópolis e três em Araranguá. Nos últimos dois anos vivendo em duas casas e começando a entender o mundo como uma realidade. Ainda que toda a noite impreterivelmente pede histórias inventadas. Não sei quantas já contei e inventei, mentiria dizendo que foram mais de mil. Não calculei. Com o tempo, aprendo a abrir mão do que é perda de tempo com tolices rasas e mundanas. Troco dinheiro pelo tempo com a Maria. O que me importa saber do fora se a vida é dentro? Se quero ter outro filho sei que a resposta é sim. Mas não quero ter sozinho. Não a qualquer custo. Caso contrário já teria adotado um filho. Quero criar um filho para aprender e crescer com o amor. Não me serve correr se não sei aonde quero chegar. Por isso, estou no sofá só esperando o começo para recomeçar. Quero sorrir em saber que consegui criar um outro lar onde a senha é amar.