6 anos
Eu tinha 32 anos quando tomei ela em meus braços. Pequena demais para o tamanho do mundo em que veio habitar. Eu pouco sabia sobre o que era ser pai e desconhecia o amor por um filho. Até hoje sei pouco, julgo ser melhor assim. Sou um admirador, um apreciador ativo no processo de desenvolvimento da minha filha. Em poucos dias irá completar seis anos. Como um bom clichê, sinto ela ainda nos meus braços. Hoje ela pediu para ir em cima dos meus ombros para cama. Foi dando risada, pois sabe que está pesada e ri de mim. Estou com 38 anos. Reconheço a minha mudança. Nem vou entrar em detalhes. Digo o óbvio: o tempo voa e o corpo é outro. Contemplo a presença da minha filha. Ela é presentemente presente nos meus pensamentos. Surpreendo-me em saber que ela sabe muito coisa sobre o mundo. Descubro com ela os detalhes que não via. Ela serve de foco. Com ela consigo observar os milésimos de segundo. Formigas em movimento. Ela ri de uma pequena coisa insignificante como se aquilo fosse realmente engraçado. Quando vejo estou dando risada. Nasci sério por isso valorizo um sorriso. Nasci velho por isso penso no passado.