Apenas ouvir

Quando vemos outra pessoa sofrendo, ainda mais quando se trata de alguém que conhecemos e amamos, o ímpeto que nos move é o de ajudar, prestar algum auxílio, fazer com que aquelas lágrimas deixem de cair e um sorriso torne a se manifestar naquele rosto. Porém, em um momento de dor intensa como aquela provocada pelo luto, o melhor que podemos fazer é ofertar a nossa companhia, é ofertar o nosso silencioso auxílio, é mostrar que estamos por aí, dispostos a ajudar quando precisarem de nossa ajuda.

Em um momento como esse, palavras são insuficientes. Não dão conta. Podem até piorar a ferida que arde por si só. É claro que não fazemos por mal, não agimos por crueldade, é claro que só queremos que a dor passe e é assim que encontramos uma forma: falando, tentando usar discursos que tragam conforto. Mas um coração está sangrando. Uma alma está dilacerada. Um amor partiu. O que, na simplicidade de nossa humanidade, podemos fazer para curar esse lamento?

Em um momento de luto ofereça seus ouvidos. Ouça. Ouça. E ouça mais um pouquinho. Fale pouco. Fale nada. Apenas ouça as lamentações, a raiva, a incredulidade, o desamparo, a aceitação. Ouça o desabafo. Lembre-se de que Rubem Alves disse que gostamos de quem ouve bonito. Diante do sofrimento imposto pela partida de alguém, a melhor postura é a de ouvinte – um ouvinte atento, empático, respeitador.

(Texto de @Amilton.Jnior)