Carta aberta à quem me abandonou
O que sou se nada sei ?
Sinto que tudo que sou e serei pode ser definido por alguém que não sou eu. O que gosto, o que sou ou até o que sei, é determinado por outro, um estranho em meu próprio mundo. Sinto-me raptado de minha própria individualidade.
Para onde olho eu vejo suas feições, seu jeito de andar e falar, é como se tudo isso me pertencesse, uma herança maldita, me suja, torna-me um pecador. Luto e grito, batalho e falho, como cordas me restringem.
Preso, me sinto.
Amarrado, então minto.
Nada sinto por ti a não ser asco, tudo em ti me causa desgosto, mas no final, sempre que o vejo, me enxergo de pé na minha frente.
sinto medo de me tornar aquele que sempre ataquei e apedrejei.
tenho mais medo ainda de no fundo ser, apenas, uma cópia de ti...