Anos de Chumbo e outros contos. Companhia das Letras, 2021.Editora Schwarcz S. A.
Nem sei porque me sinto compelida a comentar meus sentimentos ao ler este livro assinado pelo Chico Buarque que dispensa apresentações, mas nunca, os meus elogios e desejos de que siga bem, que fique muito tempo conosco, que algo o conduza além de sua obra já feita, à eternidade, pelo menos até que se reinvente ou se invente um tradutor/leitor de poetas que habitam outras dimensões.
Quero claramente dizer que sou ninguém para cometer uma ousadia destas: comentar um livro dele. A meu favor, apenas o tema, que me move sem nunca cessar, e que não posso justificar quem causou tantas tragédias de consequências tão graves e que seguem exterminando mais gentes. Século XXI e ainda se elegem admiradores de tortura; a justiça não tem poder de conte-los, quando não, estão ao lado deles, e, há um eleitorado, via de regra, desqualificado como seres humanos a flertar com armas, violências, destruição da vida, e que não se importa com o outro. Estes, não estão confinados nos quartéis! A ditadura não foi apenas iniciativa de militares.* Direitistas e fascistas estão nas igrejas e templos, nas escolas de todos os níveis, nos meios de comunicação, nos descuidos da conduta moral (não moralista), o que é pano de fundo para uma sociedade do medo e do sofrimento, sem chance de experimentar outros caminhos positivos para convivência com solidariedade em todos os tipos de relacionamento. Num ambiente desses, causado pela própria sociedade doente, que se arvora contra a corrupção dos outros, mas não se incomoda com os assassinatos diários cometidos violentamente contra negros, pobres, periféricos e povos originários; não se importa com quantos se foram pela má gestão da pandemia; nem está atento aos desempregos e quebra de direitos trabalhistas, e tudo o mais que veio desde o pesadelo do golpe. Isso, simplesmente porque o horizonte dessa parte de nós brasileiros-as, somente consegue enxergar a própria família e alguns amigos, ignorando nossos problemas estruturais, e, infelizmente se informando por uma mídia que está a serviço da outra parte dos brasileiros-as, a menor, porém, a que dita as regras porque detém a riqueza, e então o poder.
Poderia encher páginas com a minha indignação e de muita gente que quer que o país se lembre , "não se esqueça para que NUNCA mais aconteça” **, e, ainda, que o país olhe pelo menos uma vez as fotos disponíveis no site do Ministério de jovens, mulheres, campesinos, trabalhadores, professores que já não estão entre nós, e que ao olharem vejam se parecem guerrilheiros-as sanguinários-as!*** Ainda, que conheçam ou revejam o "Brasil Nunca Mais"****, e preparem o estômago antes de manuseá-lo, e que não reprimam as lágrimas, e também,o livro que resgatou o ossário clandestino utilizado para esconder mais de mil vítimas da ditadura em São Paulo. ****Quem tinha as forças armadas? Foi desproporcional e merece ser reconhecido desta forma. Não há mais como contemporizar, mentir, iludir que os dois lados tinham seus motivos e eram de mesma natureza. Então, abra essa história calada daquele Brasil, e com coragem para que ” o nosso coração recorde com a menor dor, e o maior compromisso possível, de forma que conhecendo o passado, entendamos o presente, e construamos o futuro.” *****
Um modo de colaborarmos para essa memória nacional é apoiar o Núcleo Memória.***** Outra forma é se dar conta que as oportunidades de formação via Internet estão muito mais acessíveis no Brasil e nos mostram realidades distintas da mídia comprometida com o mercado, que sinceramente não demonstra amor e respeito pela nossa emancipação como povo. Não há desculpas para votar em quem avisou que ia exterminar, armar, destituir direitos, tornar a vida dos pobres um inferno, e agora, também, para a classe média, que recebe o troco por ser muitas vezes de uma indiferença cruel com a vida dos que sofrem. Há cursos incríveis como o que fiz recentemente, denominado "Fascismo ontem e hoje", conteúdo agora disponível em livro.****** Desliga essa rede televisiva que só prejudicou o Brasil quando ela vier tentar te convencer sobre o que você bem sabe que é letal para nós. Sejamos o país das pessoas que conhecem sua realidade, sabem pensar, sugerir e votar em representantes decentes, competentes, comprometidos com os cargos que assumem. Conheçam e apoiem outros canais!*******
Os meus sentimentos da leitura do livro Anos de Chumbo:
No início estranhei a linguagem direta, sem rodeios, para imediatamente compreender quase que na pele, que foram retratados desta vez, o frio gelado da atmosfera daquela época, a violência e o medo extremo que permeavam as relações humanas, o dia dia mais banal que seguia muitas vezes sem a percepção clara de que os demônios estavam à solta, e eles estavam!
Os sentimentos todos dos poucos mas significativos personagens, embolados, embotados, e os melhores sentimentos quando expressos, saiam num choro logo contido à força. Dos que ainda sentiam, brotavam choro, sangue, urina solta. Alguns faziam de conta que aquilo não estava acontecendo, como que para salvar a crença de que o desumano não pode acontecer. Nos corredores de gentes desumanizadas pela banalização da dor, a tradução mais perfeita dos anos de chumbo que calaram à ferro e fogo tantas vidas e sonhos. O amor, até o amor, o desejo, a vivência do bom, desacreditados porque tudo fica confuso nos direitos humanos aviltados. Enterrar era a lei!
Paralelamente na idealização da literatura no ultimo conto, vê-se a condição do berço esplêndido de livros por todos os lados, mas que faltou cultivar(se), permitir(se), chegar junto e a tempo de ser tão grandioso quanto seus-sua ídolos. Ídolos que o calaram e o tornaram um eterno leitor até aqui, onde nunca tardiamente, encanta!
* Documentário: “1964 – Um golpe contra o Brasil”- Direção de Alípio Freire, que aborda a conjuntura nacional desde 1960 até o golpe civil-militar de 31 de março de 1964. Coprodução do Núcleo de Preservação da Memória Política e Rede TVT. Disponível em https://memoria.ebc.com.br/cultura/2013/03/documentario-mostra-que-ditadura-nao-foi-iniciativa-apenas-de-militares
** Site do Ministério da Justiça de 2017:
http://www.memoriasreveladas.gov.br/index.php/ultimas-noticias/272-para-que-nao-se-esqueca-para-que-nunca-mais-aconteca
***Livros: 1.Para que não se Esqueça, para que Nunca Mais Aconteça: um estudo sobre o trabalho da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil. 2014 - Paco Editorial – Prof. Carlos Artur Gallo Cabrera.
2. Vala de Perus, uma biografia: como um ossário clandestino foi utilizado para esconder mais de mil vítimas da ditadura. Camilo Vannuchi . 2020. Alameda.
****CNV: Comissão Nacional da Verdade, http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/
*****Brasil: NUNCA MAIS. O Projeto Brasil: Nunca Mais desenvolvido por Dom Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel, Pastor presbiteriano Jaime Wright e equipe, foi realizado clandestinamente entre 1979 e 1985 durante o período final da ditadura militar no Brasil.
******Núcleo de Memória: Colabore! Visite! Divulgue! Seja amigo e amiga do núcleo Memória! https://www.nucleomemoria.com.br. Localização: Rua Brigadeiro Luís Antônio 2050 Bloco B cjto 141- São Paulo, SP. Fones (11) 913207471/ (11) 23064801. Siga no Twitter, Facebook.
*******Livro: Fascismo ontem e hoje. Organizadores: Julian Rodrigues e Fernando Sarti Ferreira. SP. Fundação Perseu Abramo, 2021. 160p.
Fundação: https://fpabramo.org.br/
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