A CONSCIÊNCIA DO ESTRANHAMENTO
É do estranhamento que nasce a inquietação e, portanto, a atitude de um filosofar apaixonado sobre a nossa existência, o nosso mundo circundante, o nosso conhecimento da vida, da natureza e do ser. Sem esse estranhamento, existe apenas uma certeza inquebrantável e um conformismo com as normas da vida cotidiana, erguendo muros e não pontes para o exercício aberto do diálogo no âmbito da inter-ação que convida a reflexão mútua. É dessa insegurança originária do ser que emerge a angústia, ao mesmo tempo é a condição para uma vida de possibilidades e novas perspectivas que abre as cortinas do porvir. Através desse estranhamento, conseguimos desfazer as nossas certezas e agregar novas hipóteses para ampliar o escopo de nosso saber, um saber que obviamente nunca pode se contentar de alcançar uma condição de plenitude sob o risco de nada mais saber a respeito de si mesmo. Uma vez que vivemos num processo de vir a ser constante, somos desafiados a rever o que conhecíamos e sabíamos de forma tão clara e desconcertante; somos desafiados, pois, a reavaliar quem somos para que assim possamos compreender melhor a nós mesmos e também o nosso semelhante na sua estranheza e incógnita.