Viver em simulação
A vida simples de alguns talvez sirva de chacota para a vida robusta de outros. Não é regra, mas talvez a vida simples de alguns seja real, enquanto que a vida robusta de outros não passa de uma grande encenação. Foi Sêneca quem disse que “é melhor ser desprezado por viver com simplicidade, do que ser torturado por viver em permanente simulação”.
Muitos de nós, acorrentados no meio de uma sociedade que preza tanto pelas aparências e pelo sucesso, acabam se metendo num constante fingimento. Vivem como não podem, comportam-se como não pensam, e pensam como não concordam. Tudo para impressionar. Para agradar. Para cumprir com as exigências de sucesso e glória. Mas o que é o sucesso? E o que é a glória? Pautar-nos-emos em nossas próprias definições para glória e sucesso ou nos submeteremos às definições de toda uma sociedade que nem mesmo ela sabe como definir esses conceitos, já que a cada segundo surge uma nova forma de demonstrar sucesso ou glória? Seria muito mais saudável se cada um, a partir de sua própria realidade, composição e inspiração, definisse a si próprio quais parâmetros utilizaria para fazer da própria história o próprio sucesso. E digo que seria mais saudável porque aqueles que assumem uma personagem precisam a cada instante se distanciar de sua própria individualidade para assumir um ideal vendido por alguém. Precisam se sacrificar para manter o status. Precisam se machucar para manter as aparências. Metem-se em situações extremamente estressantes e até humilhantes apenas para manter a simulação de suas vidas.
E viver por simulação não é viver.
Porém, aqueles que vivem na própria simplicidade, não necessariamente serão pessoas sem tanto poder aquisitivo, talvez tenham uma recheada conta no banco, mas sabem que o sucesso e a glória são conceitos definíveis por eles mesmos. Então vivem em simulação. Não vivem tentando demonstrar o que não são. Não são voláteis ou, como diria Bauman, não são líquidos no sentido de assumir formas conforme a fôrma. São o que são. E não tentam se encaixar apenas para impressionar ou agradar. Para demonstrar que obtiveram sucesso ou que vivem uma glória. Eles sabem o que conquistaram. Sabem o que lhes faz feliz. Sabem qual significado dão à vida. E não precisam fazer da própria existência uma verdadeira produção cinematográfica.
Não é fácil. A todo o tempo estamos sendo exigidos para nos encaixarmos aos padrões que existem. Seja magro. Seja musculoso. Tenha dentes perfeitos. Fale com eloquência. Atraia multidões. Mas ninguém olha nos seus olhos e diz: “apenas seja você”. Em terra de simulações quem é verdadeiro é rei. Talvez não rei do mundo. Mas rei de si próprio. Da própria história. Dono de si mesmo. Que não se vende. Nem se rebaixa para se encaixar. Esse é o meu conselho. Em um mundo sempre tão insatisfeito, que nunca pode ser agradado, apenas seja você e agrade-se.
(Texto de @Amilton.Jnior)