Questão de olhar

Você já percebeu que temos uma tendência forte a nos atermos apenas ao que de negativo acontece em nossas vidas? Parece que ignoramos todo o resto, que esquecemos de todas as coisas boas, só porque algo não saiu como gostaríamos ou foi desagradável de se viver. “Quando só temos olhos para o que nos falta, nos faltam olhos para ver e apreciar um bocado de coisas preciosas que já temos”.

A frase acima foi idealizada por Ana Jácomo, e por si só já traz um profundo ensinamento. Não é exatamente culpa nossa. Talvez, evolutivamente falando, fomos preparados para prestarmos atenção aos perigos que nos cercavam, às coisas negativas que representavam algum tipo de ameaça. Pudemos ser, em certa medida, “condicionados” a darmos mais “valor” àquilo que indica perigo à nossa integridade. Mas relaxe. Respire fundo. Não estamos mais em épocas remotas, distantes dos tempos atuais, quando precisávamos desbravar a selva em busca de alimento ou mostrar os dentes a fim de proteger nossa prole. Isso não é mais necessário. Então relaxe. Vamos procurar por coisas pelas quais possamos nos alegrar em nossas vidas?

Você pode ter coisas tão preciosas e imensuráveis bem ao seu lado. Coisas até mesmo invejadas por outras pessoas. Mas não consegue perceber isso por estar ocupado demais pensando no que é que ainda poderia conquistar. Por estar ocupado demais com o futuro e não perceber o que faz parte do seu presente. Por estar vivendo em função de um tempo que pode – ou não – acontecer. Enquanto que o concreto, aquilo que você de fato possui, esvai-se por entre os seus dedos sem que perceba. O problema é que só percebemos que o que tínhamos era valioso quando já não o temos mais.

Às vezes o que perdemos pode ser recuperado. Mas em outras vezes, jamais tornaremos a ter o que era tão valioso. Por exemplo, se você perder o crescimento do seu filho, perder os seus anos de adolescência e só encontrá-lo no dia da sua formatura na faculdade, nunca mais poderá recuperar esses anos de desenvolvimento, essas oportunidades de ricas trocas, essas oportunidades de auxiliar e ajudar no progresso daquele ser humano. Isso será impossível. Arrependido, você poderá decidir por ter outro filho e, desta vez, fazer diferente. Mas será com outro filho. Em outra circunstância. Em outra realidade. Aquela circunstância que você perdeu nunca mais será resgatada. E, pior, ainda poderá ter sequelas.

A vida é assim. Passageira. E passa ainda mais rápido quando simplesmente ignoramos o passar do tempo. Quando olhamos apenas para um tempo que está para chegar. Quando nos prendemos a um tempo que já passou e que jamais voltará. Abra os seus olhos. Visualize o presente. Visualize o que de valor você possui. Isso não quer dizer que conquistas novas devam ser descartadas. Quer dizer que as conquistas novas não devem ser prioridade quando conquistas antigas podem nos fazer sentir orgulho pela nossa própria história.

(Texto de @Amilton.Jnior)