Sonho de voar

Quando eu era criança sonhava em poder voar. Fechei os olhos, abri as asas e me imaginei percorrendo a cidade pelo céu e olhando tudo serenamente do alto. Dali eu não conseguia ver o que me causava tanta dor. Não havia colegas humilhando você, professores batendo em você e gritando com você, ou insultos ou socos no recreio. À medida que envelheci, percebi que nunca poderia fazê-lo. Mas agora, muitos anos depois, entendo que não estava errado. Porque descobri que para voar não é preciso asas, basta um pouco de imaginação e uma firme crença em seus sonhos. Agora que aprendi que, embora às vezes me esqueça, quando me sinto perdido ou angustiado, fecho os olhos e voo, distanciando-me da crua realidade cotidiana que me empurra para o chão experimentando toda a sua dureza, e me levanto muito alto, acima dos meus problemas, sentindo-me por alguns momentos invulnerável. Porque tudo o que me parece um obstáculo intransponível não passa de um minúsculo grão de areia visto de cima.