Diário de uma pesquisadora em crise II
Com o notebook aberto, depois de um parto de 03 páginas, faltando ainda cinco para terminar uma parte de artigo, paro, respiro e fico revoltada com o produto.
A minha revolta surge do quando meu trabalho não é considerado trabalho, imagine, para escrever um mísero capítulo foram 15 livros, mais de 7 mil páginas lidas, fora artigos, fora palestras, fora fóruns, fora toda a bagagem de conhecimento, e todo entendimento metodológicos. E todo esse conhecimento é condensado em algumas páginas, nas quais quem lê, sequer consegue aferir que envolveu toda essa dinâmica.
As pessoas não visualizam como trabalho, mas como um "bônus", algo que faz "além" e não como algo sério. Por pessoas leia-se tanto as ao redor, quanto a forma que o nosso país e instituições encaram a pesquisa. Não vou nem entrar na esfera do quanto pesquisador ganha pouco. Apenas que ninguém trabalha 8 horas por dias, 40 horas por semana por amor, para não ganhar nada, enquanto ainda paga pelos próprios materiais de trabalho. Por qual o motivo um pesquisador deveria fazê-lo? Não pelo dinheiro, mas para que haja o reconhecimento de que seu trabalho é um TRABALHO.
Hoje, orgulhosamente, disse a alguém que resumi um livro de 109 páginas em um parágrafo de dez linhas. Depois parei para refletir que talvez não devesse me orgulhar da síntese e sim incentivar que fosse lido na íntegra. São tantas nuances que envolve a pesquisa e o aprendizado.
Então paro e respiro, e as inquietações tomam conta. Vale a pena ser pesquisadora? Vale a pena por "amor"? E que "amor" é esse que não recebe nada em troca além daquilo que já é feito por si mesma?
Continuo com os livros no colo, escrevendo o próximo parágrafo. Enquanto não tenho as respostas, o capítulo precisa ser terminado.