Uma razão vital
O ato de definir pressupõe uma significação, no mínimo, parcialmente verdadeira, pois está a acrescentar algo ao objeto de estudo, seja em elucubrações, dissertações, ou, por vezes, discursos. Porém, tal premissa adotada não só pode não ser verdadeira, como pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo _ vide lógica paraconsistente. O conceito tornou-se não ser; o conceito não é a coesão interna irrevogável em suas afirmações por sua estruturação suficiente; não só por abarcar o objeto de estudo no conceito, mas por, implicitamente, tentar por fim ao dilema lógico/real através de uma apelação retórica. O conceito de vontade de A.Schopenhauer partilha de tais características semânticas, pois a crença necessária para a estruturação formal do conceito se faz presente apenas no fenômeno do ''indivíduo'' que a ingere, isto é, o fideísmo propagado em verborragias, pois jaz um crente tolo. O conhecimento a priori do corpo (semelhante a imagem do corpo na constituição do eu em Freud) e a posteriori da vontade, que implica, à partida, o superar-se-á pela sobredeterminação da vontade ante o princípio da razão e o desejo que é abismo, pode ser interpretado como a interseção entre uma reta na horizontal, isto é, o corpo, e uma na vertical, isto é, a vontade. O corpo é limitado, finito, mortal, porém, não sabemos o que é o corpo (aqui posto como a principal representação do desejo) em sua plenitude, em outros termos, não há registro no aparelho psíquico da pulsão de vida. O saber da vontade é puntiforme, pois marca seu ser em instante, em outras palavras, é disruptiva, abrupta (Ti = Tf), incisiva e significante. O homem não conhece os instintos em sua primazia e 'absolutividez', assim como não conhece a morte. O círculo (o corpo) circunscrito ao outro (a vontade) configura-se, ambos, em limite inferior e superior onde as cotas tendem a se tocar, naquele mesmo movimento de tender a um ponto em comum, neste caso, o indivíduo, haja vista, que sua manifestação se refere a ele, o eu que em instantes é o indivíduo, o ponto central de ambos os círculos. Vi ≤ Ci ≤ Vi, Vf ≥ Cf ≥ Vf, eis a razão vital, aquela que é; marco instante, aquilo que não tem nome e comporta ''contradição''.