É no vazio que a alma se espalha,
se contorce, se alonga, se aconchega, se encolhe.
Deixa-se não ser nada, sacode a toalha,
na inquietação de não se saber.
O que, exatamente, está acontecendo?
Quem tece esse emaranhado de fios
que nos cerca e nos prende?
E o olhar arde, a gente cansa
de ver, de entender o rebuliço
que permeia entre o vão do riso e choro.
Um fantasma assusta a alegria:
Boooooo! A gente acorda fria,
procurando o engodo que nos cobria.
Depostos dos falsos postos.
Piedade é apenas palavra solta,
num dicionário qualquer ou nas leis ditas de Deus.
O perdão fica por conta de Mateus,
porque aqui a coisa é diferente,
os sentimentos são frios, quase não se sente.
Aqui se mata gente, por preconceito,
por ser um pouco diferente do que
os hipócritas chamam de normais.
Há um ódio regado pelo medo de não ser.
Não se vê leveza nem nas pessoas que
um dia achamos conhecer.
Que mal é este
dos habitantes deste mundo?
Diga-me você.