Planos e possibilidades

Dentro da Psicologia trabalhamos bastante com a questão do planejamento. Talvez você não saiba, mas o trabalho de um psicólogo não se resume àqueles cinquenta minutos de sessão com um paciente, vai além. O trabalho acontece de fato, como alguns dos meus professores refletem, quando o paciente já não está diante da sua presença, quando você senta para estudar aquele caso e buscar embasamento teórico para as suas conclusões. É quando começa o planejamento. Os psicólogos fazem um plano de tratamento. Após conhecer seu paciente, o profissional agora precisa pensar sobre em qual ponto se encontram, a qual ponto desejam chegar e quais passos seriam necessários para tal objetivo. É feito, então, um trabalhado norteador para que as ações e intervenções não aconteçam ao acaso, mas tenham um motivo para acontecer. No entanto, esse planejamento não está livre de intempéries, afinal, nós estamos falando sobre a vida humana e suas particularidades. Imprevistos podem surgir no caminho. Interpretações por parte do terapeuta podem ter sido equivocadas. Omissões por parte do paciente podem ter acontecido. E uma variedade de outras variáveis podem “atrapalhar” aquele planejamento que deve ser continuamente visto e revisto para que esteja sempre atualizado e adequado à realidade daquela relação terapêutica. Com isso, entendemos que o planejamento é fundamental, mas a capacidade de se manter flexível diante das possibilidades é imprescindível!

O mesmo pode ser aplicado às nossas vidas. Precisamos ter um norte a seguir. Precisamos ter uma ideia sobre onde estamos e aonde queremos chegar. Se a gente vive completamente despreocupado com o amanhã, sem nos importarmos em manter uma estrutura minimamente firme para o nosso caminho, podemos ser levados ao abismo. E não é exatamente isso o que queremos para a nossa história. Porém, se nos prendermos a um planejamento excessivamente rígido, incapazes de nos permitirmos a outros olhares e possibilidades, a gente acaba perdendo oportunidades maravilhosas de experiências que seriam únicas e inesquecíveis.

Por isso, é importante que você tenha um plano, mas mais importante é que você saiba que esse plano precisará ser visto e revisto continuamente, para que esteja sempre atualizado e adequado à sua realidade. As nossas realidades mudam, transformam-se, hoje estamos aqui e amanhã estaremos acolá, de maneira que o que pensamos há cinco anos talvez não faça mais sentido agora que vivemos experiências diferentes que nos levaram a pensamentos também diferentes. Se a gente insiste em algo que já não condiz com quem somos, pensamos ou queremos, corremos o risco de frustrarmos a nós mesmos e achar que nada vale a pena. Está tudo bem mudar de ideia. Está tudo bem olhar para um planejamento anterior e enxergar o quanto éramos diferentes de quem somos agora. O quanto os nossos sonhos mudaram e os nossos objetivos são outros. Esse é um aspecto da vida humana. A gente está em constante evolução.

Algumas coisas são partes intrínsecas a nós, fazem parte da nossa essência, caracterizam-nos dentre as multidões. No entanto, há muitas outras partes nossas que são apenas construções do tempo e do espaço no qual nos encontramos. Não tenha medo de mudar. Não tenha medo de ser forçado a abrir sua planilha, alterar linhas e apagar colunas. Não tenha medo da vida. Tenha medo de pensar que apenas um lugar é o certo, apenas uma posição é a confortável e que apenas um plano é o melhor. Existem muitos lugares, diferentes posições e a possibilidade de inúmeros planos. Insisto em dizer que precisamos de um norteador, tanto quanto precisamos de abertura e flexibilidade para compreendermos que na vida nada é exatamente exato.

(Texto de @Amilton.Jnior)