05/01/22:
É uma tarde chuvosa de quarta-feira, o ano recém começara, e com ele, minhas confusões pessoais. O clima está ameno e eu aqui deitada em minha cama sentindo a brisa das chuvas de verão com uma calmaria um tanto quanto estranha em meu corpo. Silêncio. Escuto somente as gotas da chuva caindo sobre a selva de pedra. A casa está vazia, como de costume no início de janeiro, todos devem estar na praia, colorindo seus corpos com melanina, sentindo o gosto de renovação nas ondas do mar, e eu aqui, sentindo no ar que a cidade está deserta, as casas desocupadas, as vozes ausentes, a rotina frenética da capital parece ter sido colocada em camera lenta, como nos filmes, como nos filmes de ficção cintifica de viajem no tempo, naquela fração de segundos que o viajante se encontra no vazio do espaço-tempo, o nada a volta dele, e as coisas acontecendo de traz pra frente, de tão devagar, sinto que estou de traz pra frente, sinto que estou andando de costas, tirando a comida da minha boca, estragando objetos antes novos, sinto que estou num limbo vazio de solidão dentro de uma fenda no espaço-tempo, e isso me soa um tanto quanto reconfortante, aqui o céu é branco, e as águas caem sob ele embelezando meu dia, também tem essa brisa um tanto quanto gelada, que acaricia todo o meu corpo de uma forma sutil, como um longo filme de vapor dançando aos meus arredores e a sensação é de que, como num sopro, repentinamente estou a flutuar, liberdade, isso me lembra o gosto da liberdade temperado com poesia, como se exatamente o mundo inteiro tivesse parado só pra mim, só pra eu sentir esse momento, só pra eu aproveitar com toda cumplicidade do universo uma tarde chuvosa de quarta-feira, com direito a todos os mínimos detalhes que fazem os dias chuvosos serem tão lindos, com direito a todos os mínimos detalhes que me fazem me sentir viva, e poder contemplar a simplicidade da existência.