Você já se escolheu hoje?

Cuidar de alguém é nobre. Dedicar-se ao bem-estar de outra pessoa é um gesto louvável, plausível, que se pode admirar. No entanto, só é genuinamente nobre quando estamos tendo o mesmo cuidado para conosco. Há pessoas que se negligenciam. Escolhem os outros em detrimento de si mesmas. Pensam que estão sendo altruístas, humildes, generosas, enquanto que, na realidade dos fatos, estão apenas sendo vaidosas – “Admirem-me! Cuido tanto dos outros que não consigo cuidar de mim mesmo”.

Outras não o fazem por vaidade, mas por medo. Medo de ficarem solitárias, medo de serem rejeitadas, medo de nunca serem suficientes para quem quer que seja. E na vontade de superar os motivos que as levam a esses medos, acabam priorizando os outros, dando a eles posição de destaque em suas vidas, diminuindo a si mesmas enquanto aumentam a importância e relevância dos outros. Deixam de se escolher, deixam de escolher a própria vida, para escolher algo sobre o qual não podem ter certeza de que é seguro.

Você escolher os outros a fim de agradá-los e os ter para sempre ao seu lado não é garantia de companhia. Você escolher os outros a fim de ser admirado e homenageado por suas ações também não é garantia de nenhuma honraria. Não estou dizendo que pelo fato de as suas expectativas correrem o risco de serem frustradas então não deve acreditar em ninguém e não ajudar pessoa alguma. Estou dizendo que escolher o mundo só para ter satisfeitas as suas necessidades não é garantia de que isso aconteça. Nossas vontades só podem ser atendidas por nossas próprias ações. Não ações completamente voltadas ao mundo, ao universo, ao ambiente externo e alheio a nós. Mas ações que se voltam para nós mesmos, para a concretização de nossos próprios anseios.

E cuidar de você mesmo, escolher você mesmo, não é sinônimo de egoísmo, afinal, para cuidar de outras pessoas você precisa estar bem consigo mesmo. Como poderia ser útil a alguém se não possui a capacidade de que ele precisa? Se a sua força falhar ele terá mais um cargo a carregar: o próprio e o seu. Para cuidar de quem quer que seja você precisa estar conectado com as suas próprias capacidades e limitações. Um médico que não se sente capaz de operar um tumor não arrisca passar o resto da carreira se martirizando por uma morte que, em seu julgamento, pode ter causado. Ele direciona o paciente para outro profissional ou tenta outros caminhos de tratamento, mas reconhece seu conhecimento limitado. Precisamos agir assim na nossa vida. Às vezes nos sentimos tão exaustos e “acabados” porque além do nosso fardo pegamos os dos outros sem termos condições para isso. Acabamos desrespeitando a nossa existência ao superestimarmos a existência outra. Não há nada demais em reconhecer quando não pode. Isso também é cuidar do outro. É ter responsabilidade. Escolha-se. Viva essa escolha. E então terá condições para escolher alguém.

(Texto de @Amilton.Jnior)