Diário- Pensamentos obscuros

Agora eu estou sozinha, escutando os meus vizinhos russos discutirem no pé da escada, imersa na escuridão do meu apartamento minúsculo, bagunçado. Protegida por uma dúzia de edredões e três gatos igualmente distribuídos sob meu corpo inerte, quase morto.

A meia hora atrás, a vizinha bateu na minha porta, veio pedir o dinheiro do condomínio, que basicamente cobre a luz na entrada e o corte da grama, as vezes ela lava as escadas. Gosto de pensar que temos o nosso próprio ritual, ela bate na porta, uma, duas, três, quatro vezes(...) até ser impossível eu ignorar, ai eu me levanto, amasso umas poucas notas e enfio por baixo da porta, ao que ela me agradece ou me xinga, em uma língua que eu não entendo.

Ai me viro de volta para o meu aconchego, tem gente que chamaria isso de depressão, eu chamo de tédio.

O dia de sexta sempre é tedioso pra mim, sempre trabalho das 7 ao meio dia, ao que, pelo resto da tarde eu apenas durmo e quando acordo geralmente peço uma pizza/ alguma coisa pra comer e me sento frente ao computador pra escrever, as vezes eu pinto.

Muito embora, ultimamente nada tenha me tirado do sofa da sala, estou dormindo nele faz pelo menos 2 meses, mesmo que, ali ao lado, cerca de uns 10 metros( pq minha casa não é muito grande) fica a minha cama, arrumada, como se ninguém nunca dormisse lá, e de fato, não dorme.

Faz um tempo, eu tive essa ideia maluca de me mudar, de sair daqui de israel, juntar minhas coisas e me jogar no mundo. O que poderia me acontecer? Além, é claro de, assassinato, estupro, cativeiro ou mesmo tudo junto. Desfiz as malas antes mesmo de sair. Não que isso me assuste, não é isso. O que eu tenho medo de verdade é de descobrir que talvez essas coisas nem aconteçam, o que esperava era um pouco de novidade, um jogo mental, um desafio.

Mas ao invés disso, eu estava parada, envelhecendo, odiando cada pedaço do meu dia, da minha existência.

Sei que, de um modo meio estranho, as minhas melhores fantasias são no mínimo ilegais, sei que o mundo jamais me aceitaria como eu sou, então eu fijo que sou como você, como eles(...) eu tenho, mas eu sofro secretamente, na inquietude do meu universo, aqui dentro, em algum lugar da minha mente, tem uma alma desesperada, gritando, abafada pela sociedade.

Aqui dentro, mora um ser desacreditado na bondade, um animal domesticado, que precisou aprender a se camuflar entre os seus iguais. E ela queria muito ser normal também, não ter esses desejos, não ter essas vontades.

Me disseram que era bom escrever, pintar, desenhar (...)

Grécia
Enviado por Grécia em 28/01/2022
Código do texto: T7439379
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