E se eu tivesse ficado? Texto real- Diário
Oi, você ta ai?
Hoje foi mais um daqueles dias confusos, repetitivos, caóticos, mais um daqueles dias, sem você.
Bom, pra começar, eu acordei atrasada, como sempre brigando com o despertador e desviando dos gatos que, já famintos, me rodeavam e tornavam uma simples " ida ao banheiro " uma verdadeira prova de obstáculos, para quem, como eu, pretende adiar bastante abrir completamente os olhos. Lá estava eu, mais um dia, enrolada em cobertas, esbarrando nos móveis.
Lá estava eu, quem diria, com quase 30, admirando o meu reflexo " comum " frente ao espelho, desejando que o tempo pudesse ir mais devagar o que, de algum modo, o tempo acelerasse até a minha volta pra casa, pro meu aconchego, pro meu exílio, minha solitária.
" Volto mais tarde" - Disse eu, aos felinos endiabrados que, por acaso dividem o apartamento comigo, rezando pro frio ter diminuido um pouco.
Dali em diante, andei pela rua vagarosamente, mesmo sabendo estar atrasada, outra coisa muito comum na minha rotina, passei pelo parque, onde observei dois pássaros, frente a frente um para o outro, como se conversassem, logo em seguida, antes mesmo que cruzasse a rua já imaginei mil diálogos possíveis entre os amigos, até ( risos) diga se de passagem, um no qual falavam sobre mim. " Quem é aquela garota triste?" Perguntava o primeiro, ao que o segundo, em minha mente era pronto em responder " Ela é sempre assim".
Fiquei com pena de mim mesma naquela hora, masss..como auto piedade não combina nenhum pouco comigo eu só dei de ombros e ri de mim mesma, assinalando mentalmente em meus devaneios, que deveria lembrar de tomar meus remédios.
Foi então que eu avistei, lá de longe, vinha vindo o metro, estavamos apenas uma rua de distância, então eu corri, sentindo o ar me escapar a garganta, a bolsa balançar de um lado pro outro, o guarda chuva ser puxado pelo vento frio e a chuva golpear meu rosto com a força de uma dezena de agulhas. Uffa! Eu tinha conseguido, tinha conseguido entrar no transporte público lotado de gente suada e molhada, apesar de ainda ser muito cedo que me levava direto pro inferno, ops" trabalho " . Bom, nunca pensei muito bem sobre o inferno, mas naquele momento eu preferiria mil vezes o fogo, pelo menos era quente.
Dez minutos depois, la estava eu correndo pela rua de novo, esbaforida, cansada em pleno começo do dia. Cheguei atrasada de novo, novidade? Nenhuma, mas quem liga?! Agora eu me vi sentada, frente a mesa de refeição, olhando pro meu almoço, rolando de um lado pro outro com o garfo os bolinhos de peixe no meu prato e depois de novo, sentada no metro, voltando pra casa, já era noite e as vezes eu deixava os dois fones no ouvido, pra evitar que alguém viesse falar comigo, me fazer perguntas ou quem talvez, me pedir dinheiro, eu confesso, nem sequer estava ouvindo música nenhuma, aquilo era só a maneira que eu encontrei de dizer" se afaste". E até aquele momento, estava funcionando.
Eu desci uma estação antes, as vezes faço isso e dou a volta pela floresta, atravessando os galhos secos das árvores e a e observando o jeito que a lua parece dançar com as nuvens no céu. Eu sei, eu sou estranha! Deprimida, egoísta, solitária(...)
Mas foi isso que te atraiu em mim, não foi? E eu gostava da segurança que eu tinha em saber que você sempre estaria lá para os meus defeitos, apesar deles, eu estava enganada, iludida é a melhor palavra, em pensar talvez que alguém não se importaria em dividir a escuridão comigo.
A verdade é uma só! De que, além de todas essas coisas, eu sou uma covarde, eu leio e te escrevo coisas que outras pessoas vão ler, estou nesse momento confessando a um estranho(a) o que eu sinto, o que eu gostaria de dizer pra você!
Talvez não tenha se dado conta do quanto é bonita, de como o seu cabelo marrom ondulado te cai bem na altura do ombro, do quanto seu nariz é perfeito, arrebitado e pequeno e seus olhos são tão escuros com a noite, um preto que eu nunca vi em mais ninguém.
Então lá estava eu de novo, divagando no sofá da sala, encarando a tela em branco do bloco de notas, aqui estou eu, outra vez com o sorriso murcho, os olhos sem brilho e o coração em pedaços, aqui estou eu, rolando na cama, esperando o sono vir, enquanto tateio a mão entre as cobertas, procurando o seu corpo entre elas. Você não está mais aqui, você nunca esteve na verdade, eu vim pra esse país sozinha, eu me escolhi ao invés de nós, pq olha só, eu achei que ia ser mais feliz com uma vida nova.
Eu te exclui da minha vida, do meu coração, pq achei que tinha que seguir em frente, bom, lá estava eu, pensando (...) e se eu tivesse, feito tudo diferente?