O que você enxerga em mim?
O jantar estava maravilhoso. Ele fez a massa preferida dela e ela escolheu o vinho que harmonizava com o jantar perfeito dos dois. Ao observá-lo cozinhar, sentada no balcão, bebericando o vinho, a aura de paz e harmonia do relacionamento parecia a coisa mais confortável do mundo. Ela se sentia sortuda. Vê-lo lavar as louças, mesmo tendo cozinhado e dito que ela deveria descansar, fez seu coração se aquecer diante de tanto cuidado.
Após o jantar, eles se sentaram no sofá e se aninharam. Ela estava com o rosto no pescoço dele absorvendo o perfume amadeirado que amava e só ele tinha, enquanto ele fazia carinho no cabelo dela, distraído com um livro. O silêncio era prazeroso. Não precisava de grandes palavras para se fazerem entenderem. Um olhar, um toque, a presença já eram o suficiente.
De repente ela se virou para ele, séria, olhando fixamente, lhe tirando a atenção do livro e disse: “posso te fazer uma pergunta?”. Ele a olha e vê a seriedade do momento. Balança a cabeça suavemente. E então ela lhe fez uma pergunta que o pegou de surpresa: “o que você enxerga em mim?”, com um sorriso tímido e um dá de ombros. Queria fazer parecer que não era nada demais, mas ele a conhecia o suficiente para saber que era importante, pois não faria tal pergunta se não fosse. Enquanto pensava no que responder, ela continuou falando, enquanto acariciava a taça em suas mãos: “eu sei que a pergunta foi muito direta e de repente, mas eu li algo hoje e fiquei reflexiva. Dizia que a gente costuma enxergar no outro aquilo que tem. É como se fôssemos espelhos uns dos outros tendo oportunidade de descobrir pequenos fragmentos nossos em cada pessoa observada. Por isso eu estava te observando hoje, para ver você e me ver também. Eu queria guardar na memória cada pedacinho seu. Não é óbvio? A gente só consegue reconhecer aquilo que um dia já foi conhecido, né? Por isso, quando se ama, há a sensação de que conhecer a pessoa, como se fosse de outra vida. A sensação de pertencimento. Eu me sinto assim com você. O que você enxerga em mim?”. E baixou o olhar, envergonhada. “Acho que divaguei de novo, né?”. E sorriu. Ele amava quando ela sorria assim, como uma criança travessa que se sente perdida.
Ergueu o queixo dela e disse, com sinceridade: “Eu adoro suas divagações, porque sempre aprendo algo novo ou só escuto por mais tempo a sua voz.” Ela riu ainda mais. “Quanto a sua pergunta, por mais simples que pareça, não é fácil a resposta. Eu vejo você, em sua totalidade e nuances. O seu jeito forte ao lidar com o mundo, a sua doçura ao sorrir, a sua humildade em admitir erros e pedir perdão. A sua coragem me faz querer ser forte. Você é um universo bonito, infinito, caótica e brilhante, que eu quero explorar. Você me faz querer ser melhor a cada dia, porque vejo você dando o seu melhor em tudo. Quando penso em fraquejar, que a minha chama está se apagando, você vem como um sopro e faz a brasa virar fogueira. E amo cada pedacinho de você. E sabe por que te amo? Porque você é você e é perfeita para mim. E se a gente se ver no outro, bem, você é a parte mais bonita de mim.” E sorriu. Ela sorria e chorava após palavras tão bonitas. Ele beijou a puxou para perto, beijou a sua testa e sussurrou “eu te amo”. Ela se aninhou e respondeu um eu te amo murmurado.
Amar alguém é encontrar quem enxerga você e seu universo infinito.