I-XXI Jaezes de vida e morte
Esquecendo pesadelos à medida que tenho outros,
arrependo-me do último que, aos porcos, jogou-me.
Era dor, não medo. Era raiva sem ambição.
E diante da injustiça, pouco me importa ter vida,
importa-me mesmo ser visto como ingênuo sofrendo
por privilégios que não tenho.
E quem garante ser eu se os sinais do meu corpo removeu?
Quem de mim lembraria sem as marcas que louvam santos que sofriam?
Estava sem tempo em meu tempo, temendo medos que não temo.
Morrendo como ignorante após décadas sendo hierofante.
Mal mais culpo os males dos meus romances, nem invejo alheias aventuras triunfantes.
Carregado ao único mundo que posso ser seu,
fez de minha fé cristã coisa vã.
Vivi pesadelos que fingem matar-me e orei por deuses que fingem libertar-me.
Fizeram das coisas minhas besteiras humanas, coisas de vivo, coisas da Terra.