A REAL SABEDORIA
(Por Érica Cinara Santos)
Há alguns anos tenho me permitido acessar inúmeras fontes de conhecimento. Buscando ali, lendo acolá, ouvindo, refletindo, internalizando muitas coisas, filtrando outras. E nesse processo confirmei uma face da verdade que já pulsava em mim: o aprendizado é permanente, não há um ponto final. E isso é mágico e lindo. É leveza e alegria pura, eu diria.
Em muitas fontes buscadas nesse meu peregrinar de autoconhecimento e autolapidação consciente, tenho me deparado com uma afirmação oriunda de algumas crenças. Uma afirmação que, no meu entendimento, há que se ter cautela na Interpretação. Explico: algumas crenças pregam que o DESEJO é a fonte dos males humanos. Que nosso sofrimento tem nos desejos a sua base real. Dessa forma, não nutrimos nossos corpos como saudavelmente seria o recomendado porque estamos sempre desejando consumir o que não o alimenta, ou o que ultrapassa o necessário para que de fato haja a nutrição. Não estamos felizes porque sempre há algo que achamos pendente nas coisas, nas pessoas, nas circunstâncias e em nós, e, portanto, estamos incessantemente alimentando a falta através dos desejos.
Acredito e chancelo boa parte de tudo isso porque, em uma análise profunda, considero essa verdade quase em sua totalidade inquestionável.
No entanto, penso que há mais profundezas nela e formas mais sábias e salutares de encara-la e compreende-la. Não penso que demonizando os desejos teremos a chave do despertar, da libertação e da paz interior. Penso que os desejos são intrínsecos desse ser que somos e, como tal, é também divino. Precisamos, tão somente olhar para eles e entende-los como aliados à nossa evolução e não como inimigos dela.
Quando desejamos o que quer que seja, mostramos a nós mesmos a nossa própria face naquele momento. E essa face deve ser olhada com toda amorosidade. Quando desejamos, dizemos a nós o que damos conta de ser naquela hora e onde precisamos generosamente trabalhar internamente a fim de deixar que floresça o que já é bom e de ressignificar e reajustar o que ainda não o é. Isso tudo é um processo cuja passada deve ser respeitada.
Se quisermos atropelar o ritmo salutar de nosso processo evolutivo, impondo-nos uma velocidade desproporcional, teremos duas consequências inevitáveis:
1. Feriremos a nós mesmos porque, na tentativa de alcançar rapidamente um novo estágio que consideramos melhor que o atual, desrespeitamos quem somos agora e desrespeitamos toda a riqueza que o agora nos traz;
2. Ferimos o outro (ainda que não verbalmente, mas sim energeticamente) porque passamos a nos incomodar com quem ele dá conta de ser nesse momento. Nosso olhar se volta apenas pra o que achamos que ainda falta nele e deixamos de absorver toda a riqueza que as Interações com as pessoas e com o mundo pode nos proporcionar.
No fim das contas, tendemos a querer ficar isolados do mundo, no fundo com medo desse mundo e DESEJANDO não DESEJAR nada. Caímos na armadilha da autoflagelação e da negação de nós mesmos. Caímos em uma autossabotagem disfarçada de iluminação.
Todos os conhecimentos são válidos, louváveis e respeitáveis. A sabedoria, no entanto, está na forma de interpretação e aplicação desses conhecimentos. A filosofia clássica nos apresenta o que denomina de A JUSTA MEDIDA, o Budismo preconiza O CAMINHO DO MEIO, por exemplo. Ambos os princípios são luzes que apontam para o respeito ao ser divino em processo permanente de evolução que todos somos.
A sabedoria está, portanto, em reconhecer, no fim das contas e por tudo que já tratamos aqui, que os desejos são nossos aliados no processo evolutivo sim. DESEJAMOS todos evoluir, DESEJAMOS que o Amor floresça sem barreiras, DESEJAMOS o bem e a elevação da humanidade, isso tudo também são DESEJOS.
Os desejos mostram a nossa face. Os desejos nos guiam pra onde devemos seguir nessa permanente jornada evolutiva.