Lembranças derretidas - comentário III
Como não chamar de destino esses primeiros encontros que acontecem assim, sem planejar, e que derivam do arranjo minucioso de incontáveis variáveis? Ainda bem que desviam de qualquer efeito borboleta que poderia mudar TUDO. Tivesse você ido embora do bar duas - ou quem sabe três - horas mais cedo, ou ela decidido ficar em casa naquele dia, ou se o pneu do carro tivesse furado e a noite tomado outro rumo,... não sei! São tantos detalhes que majestosamente e impecavelmente se combinaram para escrever a história exatamente do jeito que ela foi.
Logo, não é de se admirar que, tal qual o começo, o final esteja fora do nosso controle. Não surpreende que as estações passem - e sempre passam - e que não adianta se apegar à beleza dos tons alaranjados das folhas de outono. Você já viu como elas duram pouco? Após o espetáculo da chuva de folhas que transformam o chão em obra de arte, elas apodrecem e perdem o encanto. Sábias, já se preparam para o frio congelante do inverno e não perdem tempo.
Mas a nós, que não temos a sabedoria das folhas de outono e insistimos em ficar mesmo depois que já passou a nossa hora, cabe sofrer com o gelo que vai até a alma. Sim, talvez nosso desejo fosse eternizar cada doce lembrança em um museu composto por formosas esculturas de gelo. Mas até o inverno tem prazo de validade e, cedo demais, elas se derreteriam e escorreriam pelo chão, só para lembrar o rumo que tomamos.
18/07/2020 - comentário a partir da leitura do texto de outro poeta ;)