I-XX Jaezes de vida e morte
Pelo maçante cansaço encerro minha oração a Gotardo,
restando-me esta consciência angustiante de minha vida infame.
Sou eu um dos muitos que tanto se lembra dela,
um dos que, com o bem, jamais justificou o mal.
Com o bem, jamais justificou coisa alguma,
e nada sobra de arrimo à vileza que me encosta.
Acabo-me assim enquanto a fome nada faz em mim:
fazendo da carência uma loucura, e o que invento um passatempo.
E é tarde, pois esperei os artifícios desta Terra,
feliz no presente por acreditar estar feliz no futuro,
comovido com o passado por vê-lo mesmo com muros.