I-XX Jaezes de vida e morte

Pelo maçante cansaço encerro minha oração a Gotardo,

restando-me esta consciência angustiante de minha vida infame.

Sou eu um dos muitos que tanto se lembra dela,

um dos que, com o bem, jamais justificou o mal.

Com o bem, jamais justificou coisa alguma,

e nada sobra de arrimo à vileza que me encosta.

Acabo-me assim enquanto a fome nada faz em mim:

fazendo da carência uma loucura, e o que invento um passatempo.

E é tarde, pois esperei os artifícios desta Terra,

feliz no presente por acreditar estar feliz no futuro,

comovido com o passado por vê-lo mesmo com muros.

Murilo Porfírio
Enviado por Murilo Porfírio em 23/01/2022
Reeditado em 25/09/2023
Código do texto: T7435748
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