Passado presente - comentário I

As fotografias que eternizamos na mente são as mais difíceis de apagar. Não tem como rasgar. Aliás, são elas que nos rasgam, por dentro. Eu costumava ter dificuldade para enxergar nitidamente os rostos mais importantes em minhas lembranças. Acho que, de certo modo, era medo de macular as memórias. Eu lembrava dos atos, dos fatos, das sensações e das falas e até dos olhares, mas não dos rostos propriamente ditos. Tentei entender se isso era alguma espécie de metáfora ou só a mente pregando peças.

Sobre sonhos, pois é... quantas vezes os arquitetamos no calor da noite, no banco do ônibus, ou sempre que perdemos a noção do tempo. Mas esquecemos - só até a vida nos lembrar - que o arquiteto (de sonhos) não é livre para projetar seus próprios ideais. A ele cabe apenas dar vida aos sonhos de outras pessoas. Ele entrega o projeto, às vezes até acompanha a execução da obra, mas nunca coube a ele ali habitar.

Ainda assim, é horrível esbarrar nas lembranças de um futuro que nunca vai acontecer. Tantos significados bonitos guardados com carinho. E é injusto, sim, injusto, tentar transferi-los a novos amores. É fatal ao amor nem mais conseguir se entregar.

Sim, a canção vai estar eternamente maculada. Um eterno gatilho, cuidado! E agora eternizas também em texto esse amor que morreu no passado mas será sempre fantasma presente.

18/07/2020 - comentário a partir da leitura do texto de um outro poeta ;)

Dancker
Enviado por Dancker em 23/01/2022
Reeditado em 24/01/2022
Código do texto: T7435733
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