Gratidão
Enfim, o cúmulo da falta de senso. As pessoas agora sentem-se merecedoras apenas por existirem, por possuírem uma característica específica ou quando detém de um determinado status social/profissional. Não há mais emoções que desperte no ser o desejo de preparar algo que simbolize essa emoção plantada, de presentear com alguma coisa que materialize a marca dessa relação. Hoje, gratidão transmite-me apenas a imagem de caprichos que indiquem uma condição persuasiva de tons especiais.
Idealizando o que deveria ser gratidão, suponho que deveria ser algo de retribuição por um outro algo recebido. Entretanto, não gostaria de me fazer limitada somente a trocas de favores. Eu tento me referir a especificidade de marca de algo que não estava no esperado e causou, nessa ação, uma mudança inegável. Logo, iniciariar-se-ia um sentimento próximo de dívida, porém, não seria pura no significado de dívida. A diferença a notar-se seria de que a pessoa não estaria realizando ações como se tivesse pagando uma compra cara em suaves parcelas, seria algo próximo a ofertas de tributos por um momento que causou alguma mudança e que não será esquecida. Tributos que venham de dentro da pessoa que fora tomada pela mudança, pelo favor de ajuda; onde esse tributo venha de forma espontânea, não advinda de cobranças.
Acredito haver uma relação de proximidade entre gratidão e milagre. Essa relação poderia ser emulada em pais que reconfiguram toda suas vidas ao se conscientizarem da notícia de um filho a caminho, logo, mudam-se as formas de serem entre si e com os elementos que constituem suas vidas, tudo para poder oferecer o melhor que puderem a esse novo ente a caminho. Também pode ser notada num quadro futuro, quando esse filho percebe todo esse esforço dos pais e os recompensa com orgulho; ajuda no pesar das responsabilidades; a se fazer confiante para que seus pais possam seguir com suas vidas sem preocupações de que ele não saberá se cuidar; quando os enfermos recaírem sobre seus pais. Também pode ser encontrada em amizades que não abandonam uns aos outros nos seus piores quadros e momentos; que tentam afastar quadros de depreciação, de desistência, de tentativas de autossabotagem, dos males advindos de palavras ferrenhas daqueles que só profanam sua imagem e confiança.
Gratidão é um sentimento! Ou seja, é algo para se sentir, não algo que se deve conquistar, que se deve despertar ou produzir. Gratidão não é moeda de troca, não é uma forma bonita de debitar favores, tão pouco um jeito de controlar o outro. Gratidão é uma marca que se crava na alma, um sentimento que demora ou não pode ser suprido, que te faz pensar naquela pessoa como alguém especial, e não a ação realizada. Gratidão é uma verdade íntima que não se esconde, não contém da pessoa pela qual se fez marcar na sua vida, mas somente o seu puro e expontâneo expressar.