Conexão consigo mesmo
Estamos sempre preocupados em nos conectar com o mundo e nos manter conectados com todas as pessoas. Aliás, quando ocorrem instabilidades nas redes sociais, por exemplo, ou mesmo na nossa própria internet, a gente entra em um desespero profundo: precisamos saber como as pessoas estão, o que estão fazendo, falando e pensando. E não quero criticar essa postura, apesar de considerar uma verdadeira perda de tempo que muitos se preocupem tanto com fatos e histórias que em nada interferem nas suas próprias vidas a não ser para fazê-las pensar que suas vidas são medíocres e desinteressantes. Mas não é esse o foco. O foco hoje é que possamos nos alertar para um outro tipo de conexão – a interior.
Você se conecta consigo mesmo? Você tira um tempo do seu dia para estar presente consigo mesmo? Ultimamente parece que apenas vivemos em nosso corpo, mas não estamos realmente vivenciando-o. Estamos alheios a nós mesmos, ao que pensamos, ao que gostamos. Apenas reproduzimos ideias, seguimos valores, no automático, de forma inconsciente, mas, então, quando nos pedem para responder uma simples pergunta do tipo “quem sou eu?”, acabamos travados. Não sabemos o que escrever, o que responder. As palavras não aparecem. E então damos a desculpa de que é difícil falar sobre nós mesmos. Mas a real é que é difícil falar sobre o que não conhecemos. E se a gente não se conhece então não é de se espantar que não consigamos falar sobre nós mesmos.
E o mais triste é que às vezes sabemos tanto dos outros, ou ao menos pensamos saber, porque acompanhamos cada um de seus passos, mas sabemos nada sobre a nossa própria natureza. A gente não sabe do que realmente gosta, o que realmente aprecia, no que realmente acredita. Nós nos tornamos reprodutores de estilos de vida. Se alguém faz, eu faço. Se alguém segue, eu sigo. E estamos cada vez menos criativos no sentido de criar a nossa própria vida.
Não sabemos nem mesmo porque nos comportamos de determinadas formas, porque não conseguimos entender o que se passa dentro de nós mesmos. Não conseguimos reconhecer nossas emoções. Não conseguimos identificar o que nos deixa tristes ou alegres. Não conseguimos entender que está tudo bem quando temos um momento de solidão, quando a única companhia que nos resta é a nossa. A gente vive no automático, sabe? Vamos de um lado para o outro. Entramos e saímos de diferentes lugares. Cumprimentamos as mais variadas pessoas. Mas no final do dia é como se nada tivesse valido a pena. Simplesmente deitamos e dormimos porque no dia seguinte temos que repetir o nosso automatismo.
Quem é você? Qual é a sua filosofia de vida? O que você acha que significa viver? Mas não responda com as palavras dos outros. “Ah! Porque tal pessoa disse isso e isso e isso e então eu digo isso”. Então a resposta não é sua, é do outro. E a vida faz como aquele professor esperto que produz provas diferentes e distribuiu entre os alunos sem falar nada. A resposta do seu colega, ainda que esteja certa na prova dele, com certeza estará errada na sua. Na vida é o mesmo. A resposta de um não necessariamente é a melhor resposta para todos. Porque temos realidades e experiências que diferem. Isso não quer dizer que você não deva procurar por inspirações, é claro que as pessoas podem nos inspirar, sobretudo aquelas com boas coisas a oferecer. Mas que as vejamos como são, como inspirações, não como verdades absolutas e inquestionáveis. Porque no final a única verdade que importa, para nós, é aquela que a gente conseguiu conhecer enquanto vivíamos à procura de nós mesmos.
(Texto de @Amilton.Jnior)