Hermetismos

Começa, então, oficialmente, digamos, isto que não tem definição, mas, se quiser uma, fique com esta palavra: profusão. É, como já percebi, e você também, os modos rímicos serão repetidos, propositalmente ou não. Mas começarei, infelizmente, de um jeito não tão abundante - é que essas coisas acontecem de repente, "hoje", por exemplo, foi à tarde, inclusive decidi aí, no entanto, a preguiça reinou -, poderei falar sobre perturbações que vieram ao anoitecer. É algo não que me espera, mas vem até mim, o que é pior; desgraçando ainda mais a situação: não é coisa que agora posso simplesmente me livrar. Posso até adiar o contato, porém as amarras já me são postas com a sua chegada, uma hora tenho de mover-me e alertar o ser. Há momentos agradáveis e, como hoje, péssimos, irritantes, desgastantes. E sempre me vem a imagem de um alguém, que deve ser eu mesmo, abandonando triunfante às escondidas disso - incluído: pedidos à alguém com ar de governanta para que guarde segredo e confidências de consideração; um trajeto retilíneo e épico; o desespero do abandonado e a sua perseguição. Sempre, sempre, sempre isso.

Mas também ver a tardezinha, ocaso, suspiro do dia, quando as coisas indefinem-se. E fica o céu com aquele escuro-claro, colorido unicor, exclusividades celestes daqui, esperando raios encontrarem as frestas. Apesar disso tudo, ficam bem mais alvos de foco os focos, geralmente pretos ou brancos, dos bandos indo para não-sei-onde; uma coisa, aliás, que é própria do céu: a tristeza. Se olha pra ele e vê enigmas que sequer terei a chance de pensar em desvendá-los. Passarinhos vejo todos os dias, espetáculo, não é? Um minuto depois eu viro e viram nada. Pontos pretos, prateados, brilhantes que vão, voltam, somem e aparecem também. A admiração do instante e vem o baque da realidade, daí a melancolia e o nunca, a impossibilidade. Alegrar-se por ser testemunha ou se deprimir por não ser nada mais que isso?

As coisas tomaram um rumo divergente, mas não podia ser diferente, já que foi quase forçado. Como pensei, sorte e azar, não digo de quem para cada, da leitura, mas "siguemos": aquele, delicado como uma rosa, Rosa nossa, já disse que mais vale não saber para melhor dizer, no caso. Faço isso, como fiz, contudo os esclarecimentos, discursivos, alguns, têm de estarem em nota, senão sou ridículo; mas ele é gênio, e isso nem é meu totalmente, tome como piada. Se não rir, me consola o fato de ser de uma desconhecida vitimista em comum. Olhe só: as coisas estão começando a ficar do jeito que imaginei: sem jeito nenhum. Juízo e sentido há de monte, mas desfiado como frango para criança nova - e note que isso é, por essa lei, tido como explícito. Dessa vez, só desta (lembre-se, porém, que sou mitomaníaco), as coisas terão esse modo meio explicativo e literal. Por hoje, esse hoje de chão movediço, é só.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 08/01/2022
Código do texto: T7424384
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