TIC TAC
Numa bela manhã ensolarada Maria percebeu que o tempo havia passado.
Como se acordasse de um transe contemplou suas mãos frágeis segurando o tempo entre os dedos. Tempo que se resumia em uma maça, tão vermelha quanto seus lábios foram um dia.
Naquele pequeno momento tudo se resumiu naquela descoberta.
Fixou seu olhar para o espelho que a agua lhe mostrava, sobre seus ombros, a neve dos seus cabelos outrora tão escuros como a noite sem lua.
Olhou para as lembranças arquivadas na memória, ainda intocada pela cortesia do tempo.
Viajou em momentos tão distantes.
Sorriu com a menina do balanço, tão despreocupada e ingênua. Ignorava a caminhada interrupta dos ponteiros invisíveis ...
Viu a jovem perdida em sonhos e aspirações vivendo a descoberta do primeiro amor.
Abraça a mulher vivendo as desilusões que fazem parte do caminho do amadurecimento.
Se deleita com a mãe que acalenta e guia os filhos.
Se identifica com a emoção da avó ao segurar o neto.
Observa o relógio invisível, escuta seu tic tac. Os ponteiros nunca param. Horas, minutos, segundos...
Recorda o caminho acaricia cada companheiro de viagem com suas lembranças. Envolve os que a curaram e também os que a feriram.
Tudo passou. No palco da vida o espetáculo continua.
Outros estão despreocupados nos balanços.
Jovens se perderão em sonhos descobrindo o primeiro amor.
Outros terão desilusões e amadurecerão no caminho.
Filhos serão acalentados e guiados.
Emoções ainda estarão presentes ao se segurar um neto.
O relógio do tempo não vai parar.
E as caricias de lembranças ainda existirão. O espetáculo não terminará. Somente para Maria a cortina um dia fechará. Ao som de aplausos e vaias sua participação se encerrará.