I-XIII Jaezes de vida e morte
Teu corpo é mapa de vossos capítulos, de uma infância mimada a uma carcaça atirada.
E por um instante, diante de tantas peças largadas,
vosso vestido pareceu-me a única vítima da lâmina afiada.
Fez-se, então, de palco vermelho sob um oceano seco,
dando cor à capa, à introdução, e à arte.
Assim perde seu preço enquanto ganha valor.
Não desprezemos quem tudo isso nos trouxe, pálida mulher que cor alguma pode mais perder.
Forço-me a observa-la com mais afinco, ansiando meus carmas deixar de ter.
Que valor há o cinza sobre esta cidade que nada nos impressiona?
Encontrando vácuo no vácuo, resta-me apreciar este fato.
Cabelos lindos, se imaginada de pé. Estonteantes olhos, se imaginados abertos.
Deleitantes lábios, se paciência nos resta para fantasiar.
Seria eu ainda mais insosso prostrado sobre este pavimento rachado.
Educação vã que nem sequer é lembrada. Um nada sábio, belo e apaixonado, ainda é nada.
Mulher, de tudo que fizestes, é nada para mim. E tão pouco sou eu para todos.
Sei que esteves assustada pela lâmina que pudera adentrar-te, e morreste sem que respirasse.
Ainda assim, não a ouviria se algo pudesse contar, pois sei que não ouviria a mim.
Sei disso com base alguma, sei porque quero saber.
Finjo que sei. Consequência por viver e tanto ser impedido de morrer.
Tenho feito assim, mas já antes disso não gostava de mim.
Há um homem, talvez amigo antes de assassino, talvez erudito antes de estúpido, talvez sem antes.
Talvez este homem aqui nunca estivesse se não por você.
Tanto alucinar não me faz deixar de ouvir o mar,
como o vazio não me fez deixar de as rosas notar.
O chão é pedra, esculpida uma a uma, e delas são os muros e as pilastras.
As lâmpadas são dispensáveis diante da luz da lua.
Há areia até aqui, trazida pelo vento e pelos pés dos que andam.
Para que presumir sobre a orla se cada grão tem sua história?
Já ouço cães, ouço alguém, ouço paços, e nada se mostra.
É a distância. São fatalidades.
É o bom gosto do destino sobre arte.