Bela ilusão
Nunca fui fã de período natalino. Shoppings lotados, mundo capitalista dando em cima da gente por todo lado, falsidade aflorada em muitos que passam o ano todo sendo quem são. Não cresci num ambiente regado a reuniões em volta de uma mesa para a ceia - e nem para jantares de dias comuns. Geralmente, minha mãe preparava comida e se dirigia ao seu quarto, a fim de comer de frente para uma televisão. Meus irmãos e eu íamos para o culto na igreja e, na volta, meus pais estavam dormindo. Casa totalmente apagada. Então, natal não tem significado para mim. Não tenho memórias afetivas desse período e acabei me acostumando. Está tudo bem.
No entanto, quero fazer diferente. Quando eu me casar e tiver meu filho – ou filhos, sabe Deus - pretendo fazer de cada refeição, não somente em dezembro, um momento especial. Sem celulares, internet, sem televisão. Implementar momentos de gratidão e comunhão, prestando atenção a cada mordida. Um tempo para conversarmos e contarmos como foi nosso dia. De atenção, de família. Penso ser esse um dos grandes legados que deixarei para a próxima geração.
Sei que nem sempre é fácil. Mas é por isso que oro desde já. Família merece estar reunida e acredito que cabe aos pais essa tarefa de ensinar. Natal, para mim, tem apenas um sentido de comércio. Tempo de interesses em que se semeia em crianças que “noel” está para chegar. Mas a data não é real nem mesmo para celebrar o nascimento de Cristo porque, como todos sabem, o calendário judaico é bem diferente do nosso. Povo ocidental inventou essa ilusão.
Acho até bonita a decoração, as luzes, a imaginação que aflora no período em algumas pessoas, sim, é verdade. Mas acho que a gente precisa ser bênção o ano todo. Quem dera todos os dias fossem natal. Onde as pessoas se cumprimentam cordialmente, enviam mensagens ternas, dão comida para quem mora nas ruas, fazem campanhas de agasalho, parecem se importar com o outro, etecetera e tal. Oxalá, parassem com esse sentimentalismo exagerado e momentâneo, que soa tão fútil, e, em todos os momentos, se dessem as mãos.