Esboço de epistemologia _ 3
A substância pensante 'significa' o ente em ser através de uma função. O ser senciente aponta para o ser percipiente. O ser percipiente é o senciente significado pela substância pensante. O ser senciente aponta para o percipiente através de uma função, função esta de entregar impressões através dos órgãos sensoriais. A consciência direcionada à um lugar remete a uma função vetorial, este direcionamento por sua vez remete a vontade, a uma intenção. O eu senciente e percipiente se dá através da identificação com o processo, que são estágios no sentido cosmológico (causa primeira e eficiente _ cogito _ imagem e semelhança). A identificação com o processo da recepção, que é intuitiva e por natureza menos clara, remete a um indivíduo comum (vulgo), este pois vive de forma natural, cuja a naturalidade, como o é em termos, é irrefletida; este indivíduo vive nos estágios mais inferiores em uma horizontalidade que o é indistinguível ante si, se identifica pois com o reino emocional. A identificação com o processo, produto da intenção, da consciência no impresso nos indica um indivíduo alicerçado no pensar em, digo, entre termos intuídos pela sua desenvolvida receptibilidade, este indivíduo é pois um hábil entendedor dos sentimentos e compreendedor das emoções; os juízos sintéticos os são verossímil, a eles são. Indivíduos neste estágio intermediário são os bons literários, poetas (principalmente), músicos e artistas de forma geral; são nobres homens com gostos requintados, porém, sem propósito absoluto e transcendente. O ser senciente implica o percipiente, porém, estão ambos implicados pelo ser pensante em suas significações. Sendo assim, no processo circular o ser pensante jaz em movimento, ele é pois o pivô do que nos constitui como humano, nos é determinante, significa toda e qualquer significação, é a nossa mais sublime essência, remete, pois, ao ser, a causa antecessora de tudo, perfeita e eterna; um ser necessário, porém, apenas vislumbrado; um ser esplêndido, porém, misterioso; um ser infinito, porém, esgotável em nós, dado que no finito não cabe o infinito. A sua limpidez não se move com naturalidade em um ambiente tão heterogêneo, sendo assim, somos por definição um "ser" que não deveria ser, logo, não somos. Estamos impuro por interferências de palavras inúteis, identificações equivocadas que nos fazem crer na existência como tal, em si e por si, onde é apenas devir. Estamos preso em um ciclo vicioso de falsas equivalências lógicas, de destruir o que "não funcionou", sem ao menos nos questionar o que não funcionou.
Como visto anteriormente, Descartes reduz os processos cognitivos à percepção de ideias sem ao menos definir de fato o que é ideia; tal termo é desprovido de significação suficiente, isto é, ele o é incapaz de manter-se necessário e claro em sua compreensão em qualquer dos contextos internos (próprio ao seu sistema); além do conceito ser tautológico, uma cobra mordendo o próprio rabo, ausentando o centro, o ponto, portanto, tal conceito não só não é consistente, como também é desprovido de força argumentativa. Para o cogito ser um fato evidente, já que ele não é auto-perceptivo, deve ter sido gerado por outro. Digo, em termos lógicos não seria absurdo o meu pensar ser uma ilusão e o pensamento ser de outro, ou seja, este pensar e o mundo serem produtos deste outro pensar, em outros termos, um sonho de outrem. Assim sendo, a substância pensante, que é nossa natureza ontológica, deve ter sido gerada por outra com as mesmas propriedades, pois uma substância não gera outra substância, mas a si mesma em outro, mesmo que em diferente grau, pois sabe-se que a limitação espacial (geométrica, orgânica) do sujeito, haja vista, os seus finitos predicados, cognoscente faz ser, também, o da sua essência, de outro modo, da sua substância pensante; ademais, aquela é a menos provável entre outras possibilidades lógicas, por ser a mais complexa dentre elas, isto posto, provavelmente não teria implicação no real. O verdadeiro eu, a verdadeira identidade, faz-se em contato com esta substância, este eu mais elevado, sublime, porquanto, o referencial absoluto.