Nº1 - Resistir
Eu não devia nem estar contando isso aqui, mas a verdade, vocês vão me entender, a verdade é que a vida não segue roteiros, como já disse no texto anterior. Ela pula, saltita, rebobina e faz o que bem quer. Algumas vezes somos meros marionetes sentimentais.
Seria mais fácil se ela fosse de todo amarga, como uma cerveja ou um bom vinho seco. Uma hora a gente acostumaria o paladar e o tanino não incomodaria tanto, noutra já passaríamos a apreciar. O problema da vida, essa grande vadia sem coração é que ela nos oferece todo o seu mel antes de nos tirar. E ficamos assim, perdidos, com o paladar confuso e a mente ainda mais.
Chega um momento em que o vazio ecoa tão profundamente dentro de nós que nos tornamos abismo e não conseguimos externar com palavras a sensação de um buraco negro nos consumindo, pois bem, é nesse exato momento em que a única alternativa que nos resta é resistir. Continuar resistindo, independente da tempestade, do vento, do mar e das ondas. Continuar resistindo.
E eu resistirei, mais uma vez e mais outra e quantas outras vezes forem necessárias. Minha resistência é meu brado silencioso e retumbante contra o destino, que outrora já foi meu amigo e meu amante. Minha resistência é meu cruzado mais forte e minha defesa mais eficaz. Minha resistência foi forjada de todas as lágrimas que derramei e todos os colos e abraços que eu mesma me dei. Minha força vem de todas as noites em que chorei até a exaustão. Eu sou uma sobrevivente e sim, eu vou continuar lutando, defendendo e avançando minuciosamente, passo por passo, respiração por respiração.
Resistirei com a ternura e rebeldia de uma flor que insiste em nascer à beira do concreto onde ninguém jamais a plantou.