Afogar-se?
O desespero, ao contrário do que muitos pensam, é um mar calmo.
Se navega tranquilo, remando suavemente com as mãos, admirando a quietude, a profundidade e a beleza, o silêncio e o vazio.
É um mar calmo de águas escuras, tão profundamente escuras, que refletem tudo como um espelho faminto, capaz de devolver todos os olhares carregados dos mais pesados sentimentos guardados em nossos olhos.
É poder ver, ouvir, cheirar, sentir e vivenciar todo o "nada" com maestria, assim como um sommelier degusta um vinho antigo.
É uma experiência única. Ludibriante.
E com essa paciência, nos consumimos.
O mar agitado nos leva a algum lugar. As tempestades nos levam a algum lugar.
A calmaria é o oposto. Caso o nosso barco não afunde no desespero, nós nos afundamos em nós mesmos.
Feliz quem está preparado para este mergulho, mas sinto muito pelos outros, que assim como eu, não estavam preparados para o que pudesse vir.
Um cronômetro marca.
O vazio me observa.
Quanto mais consigo resistir?