Ressacas do mar da vida
Venho me questionando quem sou eu: Esse cara feliz e alegre que contagia as pessoas, mas que passa por períodos de introspecção na própria dor, ou se talvez eu não passe de um personagem de quinta categoria, iludindo a mim e aos outros.
Quem luta contra a depressão nem sempre demonstra tristeza, ainda que a sinta. Aprendi a lidar e a driblar, ocultar.
A tristeza parece vir em ondas. As vezes tão leve que mal molha os pés, fácil de contornar, em outras vem agressiva, ao ponto de fazer meu mundo virar do avesso em caixotes onde a água e a areia são angústia e dor.
Um lugar, uma lembrança, uma palavra pequena que vai de encontro à uma ferida antiga, escondida... Eu ignoro, sufoco, rejeito, mas por quanto tempo? Horas, dias, semanas?
O prazer em fazer as coisa que mais amo desaparece. Embora pareça apenas uma pequena fisgada, a dor se expande e vai tomando conta das veias, dos órgãos, sinto meu estômago comprimir, interferindo no bater do coração que, acelerado ao extremo parece que vai explodir no peito, como um vulcão de emoções a entrar em erupção. A pele queima, as mãos tremem, o ar se vai e as lágrimas chegam, pesadas... Nesse transbordar do pranto a dor se instala de forma definitiva, dominadora e poderosa ao ponto de me fazer desejar o fim, não por não querer viver, mas simplesmente para que a dor pare, para fugir dos olhares, do medo e da vergonha, para esquecer, não sentir mais tanta angústia e sentir paz.
Mas a calmaria vem e eu encontro o fim, não o meu, mas o da dor.
Sim, quando sou puxado do fundo das águas escuras da angústia pelo poder de um abraço amigo, um copo de água, um Rivotril e terapia, também no aconchego das pessoas que se importam de verdade, e que me trazem de volta a quem eu sou, ou penso ser.
Ao menos até que chegue a próxima onda.
Até quando?