Somos esquisitos por nos importarmos tanto com coisas que não nos dizem respeito

Certa vez me deparei com uma tirinha que possuía o seguinte diálogo:

— Não gosto de tatuagem.

— É só não fazer.

Simples assim. Se você não gosta de algo, não concorda com algo, não quer algo na sua vida, é muito simples: basta não fazer aquilo. Você não precisa sair por aí criticando, desprezando ou machucando alguém que goste de algo que o desagrada. E esse parece ser um conselho tão obviamente bobo, mas muitos não o reconhecem como uma regra de civilidade e boa convivência. E, então, criticam não apenas quem faz uma tatuagem, criticam quem usa calças, quem pinta as unhas, quem coloca uma regata, quem está acima do peso, quem é mais calado, quem namora com alguém do mesmo sexo ou aquele que simplesmente quis uma vida sem filhos. É estranho o quanto as pessoas se importam tanto com vidas que não são suas.

Não tão estranho. Se eu me incomodo tanto com algo que vejo em alguém, não estaria aquilo dizendo algo sobre mim? Eu não estaria anunciando ao mundo que eu também queria aquela tatuagem ou aquele corte de cabelo, mas, por me privar em nome de convenções, não posso e portanto não quero que ninguém mais possa só para que a inveja que sinto não doa mais do que já dói? Pense bem antes de criticar as pessoas por elas terem uma vida diferente da sua. A vida é delas. No que isso implicaria na sua? Com sinceridade, pense com honestidade, muda em quê na sua vida que o seu vizinho tenha outro marido? Ou que a sua vizinha não se sinta confortável para ser mãe? Por acaso alguém está invadindo o seu espaço e o obrigando a ter um estilo de vida que não o agrada? O que as pessoas fazem é lutar por um pouco de respeito, para que se sintam livres e tenham assegurado o direito de serem quem são e viverem os próprios sonhos, mas nunca vi alguém invadir a casa de outra pessoa e obrigá-la a uma vida que não lhe pertence.

Aliás, vi sim. Vi quando estudei sobre os colonizadores, que na sua arrogante petulância atacaram tribos africanas e sequestraram seres humanos para levá-los a uma terra que não era a sua, a uma vida que não era a deles. Vi também quando estudei sobre os nazistas e a maneira nojenta como trancafiaram judeus em vagões levando-os para campos de concentração, onde foram privados de suas famílias, de suas profissões, de suas convicções, em nome de um tolo e desgraçado preconceito.

Queremos ser como esses antepassados que nos envergonham? Dizemos tanto que repudiamos tais ações, mas torcemos o nariz e tecemos comentários maldosos quando nos sentamos ao lado de alguém que está acima do peso, mesmo que só um pouco. Somos esquisitos por nos importarmos tanto com coisas que não nos dizem respeito.

(Texto de @Amilton.Jnior)