Ah,
Às vezes me pego pensando. Sinto que ando com medo. O refletir exige momentos de intensa solidão. É nesses intervalos de lucidez que me aquieto e sofro. É como se o amor entrasse em mim pelos poros e fosse galgando espaços até então, inatingíveis. Não raro, percebo que ele me foge pelas mãos, como se meus dedos não fossem suficientemente fortes para barrá-lo.
O pensamento é como uma pedra jogada no leito do rio que expande em ondas de dentro para fora. Quando isto acontece, ele deixa de ser uma exclusividade nossa. Perdemos a propriedade. Ele passa para o campo do Domínio Público, como se fosse uma obra de arte. É engraçado dizer isto, uma vez que ele não tem forma física determinada, pois não pode ser tocado com as mãos ou mesmo com os olhos. Mas ele fica, na maioria das vezes, na nossa memória, dentro de um dos seus inabitados compartimentos. Como se ocupasse uma gaveta que pudéssemos abrir e fechar a qualquer momento.
Em certas ocasiões o pensamento requer esforço adicional, nos obriga a tratá-lo com respeito, chego a acreditar que ele é uma dádiva que nos foi dada para que pudéssemos usar como uma entidade que tem vida própria. O pensamento pode fazer, entre outras coisas, que o amor fique maior ou menor. Ele tem a prerrogativa de modificar o nosso “Eu” de modo que ele ganhe uma nova dimensão. O pensamento é uma busca interior. É essa busca que nos faz caminhar, que nos projeta para o futuro. Quem não se dá ao luxo de experimentar o perigo, não corre risco, mas também não exerce a dignidade de viver e até pensar.
O importante nesta história não é saber o quê estão pensando de mim, mas o quê nós pensamos de nós mesmos. Mais maluco ainda é pensarmos: o que será que pensamos de nós mesmos? É por isto que estou com medo.