A Luz me Bateu

A luz me bateu, bateu como minha mãe nunca antes tivera feito. Arrancou de meu peito a soberba, fez-me de coitado e irrompeu-me no chão. Liquidou, varreu, naquele instante, todo eu. Corrompera-me, iludira-me, viciara-me. O doce daquela luz atiçara minhas pupilas gustativas, cada presença da dualidade onda-partícula da luz me atravessara. Apenas um átimo foi necessário para me tornar um dependente, não mais queria e mesmo que quisesse, não podia voltar à condição anterior. Não podia voltar à Caverna de Platão onde os homens tolos merecem viver. Forçado por outrem, saí em busca do mundo exterior e transmudei-me, são, aos olhos dos filósofos. Mas, maldito seja o conhecedor da verdade, maldito eu seja que, aos trancos e barrancos a conheci. Àquela luz desejo sofrimento e que padeça, se é que já não se cumpriu meu desejo. Àquela luz componho todo meu ódio, porque, foi aquela luz que forçou meus olhos a se fecharem e a se abrirem, abrirem e fecharem. Aquela luz me fez chorar, chorar como minha mãe nunca antes tivera feito. Aquela luz... Foi em 28/09/2002, data póstuma para mim, o dia em que nasci.

IGOR GOMES DIAS BORGES
Enviado por IGOR GOMES DIAS BORGES em 22/11/2021
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