Precisa-se de amor próprio
Uma das coisas mais importantes para alguém é ter amor próprio, ou seja, autoestima. E todos os pais deveriam ter em mente que precisam ensinar os filhos a ter amor próprio, para que os mesmos se deem valor. A falta de autoestima leva muitas pessoas a não se darem o devido valor. Quantas pessoas não vemos aguentando relacionamentos abusivos ou desrespeito e, se formos olhar a história de vida de muitas pessoas que aguentam parceiros que não as respeitam e ainda por cima as maltratam, veremos que elas não foram ensinadas a ter amor por si próprias.
Por que existem tantas pessoas com tão pouco amor próprio? Não há uma única resposta, até porque cada pessoa tem uma história de vida e muitos são os fatores que podem levar alguém a não ter autoestima. A pessoa pode ter aprendido com seus genitores( que deveriam ser os primeiros a ensiná-la a se amar) que não era digna de amor e isso pode se refletir na maneira como ela se conduz em sua vida, aceitando calada desrespeitos e injustiças, sofrendo com um parceiro que a trata como lixo e não indo à luta por realização profissional, pessoal e social.
Temos de admitir que é fácil falar que cabe aos pais ensinar os filhos a se amarem, mas precisamos entender que não existe escola para ser pais e muitos pais que agem de forma abusiva com seus filhos foram maltratados pelos pais e não aprenderam nada sobre como educar os filhos a ter amor próprio. E isso dá início a um círculo vicioso. Quem foi maltratado, abusado ou espancado pelos seus genitores pode repetir esses comportamentos abusivos.
Às vezes, os pais não percebem que certas atitudes ou palavras podem causar um enorme dano à autoimagem e autoestima dos filhos. Quanto mais jovem uma criança, mais ela acredita no que os pais dizem e dizer a ela coisas como “você é lento” ou “que menina burra”, mesmo que sem má intenção, é altamente nocivo no desenvolvimento do amor próprio. Alguns pais, talvez porque tiveram problemas com os seus pais no passado, tendem a ser duros, exigentes demais ou mesmo negligentes para com os sentimentos dos filhos, o que poderá ter um efeito negativo que repercutirá ao longo do tempo. Não são poucos os jovens que, por causa das palavras dos seus pais, crescem inseguros e se considerando burros, pouco capazes e desmerecedores de felicidade.
Um outro problema que pode afetar a autoestima de uma pessoa é o bullying no ambiente escolar. Além de deixar traumas, o bullying é capaz de fazer uma pessoa ficar com a ideia de que, se as outras crianças ou adolescentes a perseguem e maltratam por causa de alguma característica sua ou qualquer outra besteira, é porque o problema está com ela. E isso piora muito se perseguem a vítima por ser gorda, negra, mais alta, baixa, quieta ou qualquer outro motivo. E a situação piora muito quando ninguém faz nada para ajudar a vítima de bullying, que sente que ninguém se importa com o fato dela estar sendo espancada ou feita de palhaço pelos colegas.
Estudos mostram muito bem que pessoas que sofreram bullying na infância e/ou adolescência têm problemas de muito baixa autoestima e não são poucos os que necessitam de uma boa terapia. Crianças e adolescentes precisam se sentir aceitos e não é nada fácil para alguém ser aquele ou aquela que todos desprezam, humilham e até agridem fisicamente. Numa idade tão vulnerável, sentir-se rejeitado pode causar sérios danos ao amor próprio de alguém. Vários casos de suicídio na adolescência são e foram motivados pelo bullying.
Além dos problemas já citados, há outros fatores que podem levar uma pessoa a não ter suficiente autoestima e um deles é o fato de que nossa sociedade estabelece padrões de beleza, sucesso e tantos outros capazes de fazer alguém se sentir pressionado a se “encaixar” para se sentir adequado. Uma boa prova é vermos moças e – em menor número – rapazes com distúrbios alimentares tentando corresponder aos padrões de beleza vigentes. Embora tenham surgido movimentos culturais valorizando a diversidade e dizendo que cada pessoa é seu próprio padrão de beleza, não podemos ignorar que a indústria da beleza ainda é muito forte e impõe como padrão que uma moça deve ser alta e magra e que um rapaz precisa ser musculoso. Não são poucos os casos de crianças e adolescentes que não gostam dos próprios corpos e desenvolvem distúrbios como anorexia, bulimia e ortorexia*.
Além dos padrões de beleza, devemos citar os de sucesso. Várias pessoas, ao fazer uma análise de suas vidas, sentem-se fracassadas por não terem feito o que a sociedade considera aceitável. Um bom exemplo é o da mulher que não casou e teve filhos. Ainda hoje, mulheres que ficam solteiras são malvistas e tachadas de “tias solteironas” e uma mulher que não casou, comparando-se às outras, pode se sentir inadequada, não gostando nem mesmo de falar no assunto. Tal ideia pode repercutir de maneira negativa na autoestima dela.
Uma pessoa com problemas de autoestima precisa trabalhar para reconstruir o seu amor próprio e isso não é fácil, ainda mais se ela, por algum motivo, seja de ordem familiar ou qualquer outro, aprendeu que é alguém sem valor. Muitas são as pessoas com problemas emocionais decorrentes da falta de amor próprio. Isso pode ser resultado dos pais a terem criado fazendo-a acreditar que não era e nunca seria boa o suficiente; de ter sofrido bullying na escola; ter passado por algum relacionamento com uma pessoa abusiva e tóxica e por aí vai. E reconstruir o amor próprio ferido se torna um grande desafio.
Trabalhar a autoestima é muito importante e uma prova de que as pessoas reconhecem esta verdade está no sucesso dos livros de autoajuda, que são muito procurados por pessoas que querem ser felizes no amor, vida profissional e/ou social, emagrecer e melhorar sua autoestima. Acontece que tais livros para nada servem. Nenhuma pessoa conseguirá restaurar sua autoestima simplesmente repetindo frases como: “Eu sou valioso, sou competente e tenho direito ao amor.” Se assim o fosse, inclusive, não haveria tantas pessoas procurando a ajuda de terapeutas e psiquiatras para se tratar de transtornos de ordem mental ou psicológica, pois a leitura desses livros e a prática do que eles ensinam já bastariam para que todos resolvessem seus problemas pessoais.
Se você tem baixa autoestima, conscientize-se de que deve trabalhar bastante para se sentir bem consigo mesmo(a). Se sentir que é necessário, busque ajuda profissional, não gaste seu dinheiro com livros de autoajuda e, mais importante, afaste-se de pessoas que lhe dão a entender que você é inadequado, incompetente e inútil, fazendo questão de apontar seus menores erros e enfatizar seus defeitos para lhe dar a certeza de que você não serve para nada e nunca será ninguém.
Mais importante que tudo: amar-se não é errado e jamais deve ser confundido com arrogância. Precisamos ter amor próprio principalmente para ter uma boa reserva de força interna para não permitirmos que outras pessoas nos pisem e encontrarmos nosso lugar no mundo.
• Espécie de distúrbio que leva a pessoa a malhar incessantemente na busca pelo corpo perfeito.