Lembranças
Sentado na raiz, em baixo do pé de Cajá, onde outrora brincava sem preocupações, mas, com o amor, o trabalho e a idade hoje presente.
Assim sou eu... Sentado aqui, mastigando a folha da cajazeira, olhando aquele vaqueiro tangendo sua boiada (três vacas, um boi e um bezerro), até a porteira de sua morada.
Pensei:
- As coisas mudaram. Perdemos a beleza, a inocência e nossa medicina popular.
Onde foi parar a beleza das boiadas, do boi de careta, que, nos faziam correr com medo de ser chifrado.
Dos carros de boi com aquele som das rodas inconfundível, das idas para a roça, de caçar Tatu Rama (Melancia) na madrugada para chupar.
Com o passar do tempo esta lembrança só existe naqueles que as vivenciaram. Sobre a luz de um candinheiro, do lampião.
Por falar no lampião, este renova a minha inocência. Aquela que no escurinho quando nossas mãos se tocavam por trás das costa, quando não dava para sentir toda sua mão a ponta dos dedos nos deixavam em êxtase, os corações saindo do peito e não podemos esquecer o primeiro e com certeza único amor.
Para qualquer pessoa que teve o prazer de tê-lo, embora o tempo e o destino tenha reservado outros por onde passamos, guardamos em um espaço infantil da nossas mentes.
DINHO, vai lá na casa de dona "MOÇA" (que embora já tivesse deixado de ser), pede a ela aroeira para fazer chá e hortelã graúdo. Íamos correndo, na maioria das vezes xingando por ter que sair no meio de uma brincadeira.
Teve furúnculo, espinho de mandacaru verde retira o carnegão e nunca mais nasce, teve impingem queima o papel, pega a cinza e coloca no lugar que para de coçar, essas e muitas outras ciências dos velhos que davam certo.
Hoje. O que vemos não nos agrada.
A beleza, é substítuida pelos carros e celulares top de linha.
A inocência, foi trocada por submissão e danças de baixo calão.
A medicina, pelas drogas vigentes dessa nova época.
Sentado em baixo do pé de Cajá, olhando o velho amigo, fechando a porteira de acesso a sua casa, toda gradeada, como se estivesse voltando do induto para o presídio do lar, peço um repouso merecido, pois, o primeiro dos amores, assim como o próprio nome diz, foi o primeiro a repousar.
Texto: Lembranças
Autor: Osvaldo Rocha
Data: 17/02/2021